Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 7 de março de 2011
07 de março de 2011 | N° 16632
KLEDIR RAMIL
Imortalidade
Em 2003, Moacyr Scliar foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. No dia da posse, chegou ao Rio de Janeiro e foi para o Hotel Glória, onde ficou hospedado. Na portaria recebeu uma ficha para preencher: nome, RG, endereço... Quando chegou no item “motivo da viagem”, parou e, com refinado bom humor, falou para o rapaz da recepção: “Eu vim buscar a imortalidade, mas essa opção não está prevista aqui na ficha de vocês”.
No meio dos preparativos para a posse, um detalhe me deixou impressionado e dá muito bem a dimensão de quem foi Moacyr Scliar. Ele não aceitou que fosse usado dinheiro público para pagar seu fardão, como é de costume. Além de um escritor excepcional, era um cara de princípios.
Tive o privilégio e a satisfação de ver Tipo Assim, meu primeiro livro de crônicas, prefaciado por ele. É uma apresentação extremamente generosa, que me deixou tão emocionado que eu, que não sou de chorar, fui às lágrimas.
Scliar foi criado no Bom Fim, o mesmo bairro que canto em Deu Pra Ti e onde morei durante todo o tempo em que vivi em Porto Alegre. No livro A Guerra do Bonfim, ele fala com carinho da Padaria Três Estrelas, na rua Fernandes Vieira. Essa padaria era do meu avô materno, Basilicio Alves, que ao deixar a Capital vendeu-a para um casal que se tornou muito amigo do menino Scliar. Essa convivência marcou sua infância com histórias que depois viraram lembranças e ficaram guardadas, imortalizadas em alguma prateleira da memória. Provavelmente, entre bolachas, rosquinhas e pão sovado.
Toda essa história de imortalidade me fez lembrar que quando jovem eu queria mudar o mundo. Quando percebi que era impossível fazer tudo, pensei em fazer muito. Com o tempo, me dei conta de que só era possível fazer um pouco. Com a chegada da maturidade descobri que fazer um pouco já é alguma coisa e pode até ajudar a melhorar o mundo.
Nós, os artistas, quando vamos embora, deixamos uma obra que permanece um pouco mais. É uma extensão dos nossos sonhos que vai ficando por aí, ajudando pelo menos a alegrar o dia a dia das pessoas. Não chega a ser uma imortalidade, mas é uma sensação boa de que nossa vida vai ser um pouco mais cumprida. Com “u”.
Já no caso do Moacyr Scliar, o título de imortal que recebeu é apenas uma confirmação daquilo que nós já sabíamos. Ele deixou uma obra que vai ficar para a eternidade.
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