segunda-feira, 28 de março de 2011



28 de março de 2011 | N° 16653AlertaVoltar para a edição de hoje
PAULO SANT’ANA

O diagnóstico

Quem me lê assiduamente, sabe que tenho péssima ideia da humanidade.

Considero os homens invejosos, odientos, agressivos, rivais.

Pois como por um milagre, vi desmanchada essa minha impressão antiga quando há dias apareceu um câncer no meu organismo, lá onde se localizam as adenoides.

A corrente de solidariedade de que fui alvo me fez ter uma outra ideia sobre o caráter das pessoas.

Mal se espalhou pela sala cirúrgica do Mãe de Deus a notícia, ficaram chocados os médicos, os enfermeiros, logo em seguida em metástase a má nova atingiu os meus amigos, um deles, louco de especial, gritou desesperado: “Não, não, com o Sant’Ana não, com qualquer um, menos o Sant’Ana, que será de nós?”.

Minha filha Fernanda Wainer, que mora em São Paulo e estava de mal comigo, pegou um avião e desceu aqui fazendo as pazes e colocando-se a meu lado na luta que estou enfrentando.

O mesmo com minha ex-mulher Ieda, com o meu filho Jorge, com meus netos, com minha irmã Teresinha, que aos prantos me desejava felicidades na solução de meu drama, o mesmo com minha atual mulher Inajara e minha filha Ana Paula, os meus parentes e amigos sofrendo dor terrível e procurando me amparar nesta hora tensa.

Os médicos, ah! os médicos, estes apóstolos do humanismo, logo desvestiam a máscara de médicos e se revelavam meus amigos, mostrando no rosto apreensão e tristeza, mas sempre com uma palavra encorajadora.

O meu patrão me telefonou várias vezes, alistando-se preciosamente entre os que estarão a meu lado na luta ingente e indormida que vem por aí.

E lá vou eu, ao encontro do meu destino. Mas alicerçado na confiança e na amizade de tanta gente que logo que soube do infausto se colocou a meu lado para trilhar os caminhos que se Deus quiser me levarão à cura.

Como posso eu daqui por diante cultivar a má ideia que tinha das pessoas? Retiro terminantemente esse preconceito idiota que me sujava a mente.

Na rua, ontem, o pensamento dos que me encontravam podia se sintetizar assim: “Não é nada, Sant’Ana, tu tens sido um bravo no combate às tuas inúmeras doenças. Vais tirar de letra mais uma.”

Muitos de vocês, leitores, leram em minha coluna que eu estava com dor de garganta há 130 dias.

O dr. Nédio Steffen, encorajando-me, disse-me ontem que tudo que ele deseja é que minha dor de garganta, inexplicavelmente contínua e duradoura, tenha sido o sinal de alerta para as investigações incessantes e diárias que levaram ao diagnóstico.

Como eu procurei esse diagnóstico! Andei atrás dele durante semanas e meses, até que o obtive. Ele não foi bom, mas agora dependo dele.

E seja o que Deus e meus amigos, leitores e parentes quiserem.

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