11 de janeiro de 2013 |
N° 17309
DAVID COIMBRA
Outros tempos
Outro dia, uma estudante de
Arquitetura ligou para me fazer perguntas sobre o velho IAPI. Estudantes de
Arquitetura adoram o IAPI. A folhas tantas, ela quis saber:
– Vocês se sentiam isolados no
IAPI dos anos 70?
Fiquei pensando. Isolados? Bem,
não existia internet ou celular nos anos 70. Mais: nenhum de nós, com exceção
de uma única menina, tinha telefone em casa. Não tínhamos telefone EM CASA,
imagine. Quer dizer: a comunicação era de fato precária. Ainda assim, as coisas
funcionavam como funcionam hoje. Nós saíamos, encontrávamos os amigos,
namorávamos as gurias. Como fazíamos sem Facebook, Twitter, e-mail e mensagem
de texto? Uma façanha.
Nossa vida se passava naquelas
imediações. Não havia shoppings em Porto Alegre, o primeiro foi o Iguatemi,
erguido do chão bruto da Zona Norte em 1984. Então, o lugar para se ir, fora da
vizinhança, era a Rua da Praia. O Centro buliçoso. O lugar em que as meninas
passeavam de minissaia. Não era com qualquer roupa que se ia ao Centro. Mas, em
geral, a Rua da Praia era só para compras nobres e para a observação da raça
humana em desfile.
As compras do dia, açúcar, mate,
litro de leite, meio quilo de pão semolina, essas fazíamos no mercado do seu
Zequinha; as mais pesadas no Febernatti, ali perto, ou no Econômico, mais adiante.
Para beber uma gelada? O Bar do Alemão, na Volta do Guerino, ou o do Chico, sob
o Obirici. Corte de cabelo?
No Salão Gre-Nal, onde podíamos
conferir todos os números da Revista Placar. Assistimos ao Tarcísio Meira fazer
um Dom Pedro perfeito, em Independência ou Morte, no grande Cine Rey, se bem
que é verdade que Nos Tempos da Brilhantina nós vimos no Capitólio, tivemos de
pegar o Linha 20, desembarcar na Praça Dom Feliciano e descer toda a Borges
para, ao chegar lá, a Maristela admitir que tinha menos de 16 anos e ficar de
fora da sessão, era bem tansa a Maristela.
Quando já estávamos mais taludos,
decidimos ousar: os embalos de sábado à noite aconteciam no Gondoleiros, no
remoto Quarto Distrito. As noites tocadas pelos Discocuecas eram as melhores.
Numa dessas, o Sérgio Anão deu um show de dança travoltiana, apontando com o
indicador para o globo giratório, se requebrando até o chão e arrancando
aplausos da galera. Às quatro da madrugada, voltávamos a pé para o IAPI. A pé,
quem diria.
Era outro mundo?
Não. Era igualzinho. Não havia
tanto para se consumir, nem tanto para ver, mas as necessidades, os desejos e
os sentimentos eram os mesmos. As pessoas precisam das outras pessoas em
qualquer tempo ou lugar. Nada do que se tem ou do que se sabe é mais importante
do que isso. Isso não muda. Nem nunca vai mudar.
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