domingo, 13 de janeiro de 2013



13 de janeiro de 2013 | N° 17311
QUASE PERFEITO | Fabrício Carpinejar

Serenata na janela, agora!

“Preciso dos seus conselhos sábios. Estou saindo com um rapaz há alguns meses. Ele conhece todos os meus amigos e vice-versa. Nos falamos todos os dias, nos encontramos quase todos os finais de semana, trocamos mensagens de bom dia, boa tarde e boa noite. Ele me chama de ‘meu amor’ e vice-versa. Combinamos de sermos exclusivos: eu só fico com ele e ele só comigo.

Seria perfeito, se não tivesse um porém. Toda vez que alguém pergunta se estamos namorando ele prontamente faz questão de afirmar que não, que estamos apenas ‘saindo’. Não quero forçar a barra e colocá-lo na parede porque não gosto dessa atitude. Mas por que não assume o que temos? Ele é 10 anos mais velho que eu e não sei se isso interfere em algo. O que faço? Beijo, Lilian”

Querida Lilian,

Não conservaria a educação que apenas beneficia a covardia do rapaz.

Atingiu aquele ponto natural da relação onde espera a convergência do público e do privado, do que é dito no ouvido com o que é exposto na rua.

Não existe outro caminho. É a encruzilhada obrigatória para o amadurecimento amoroso. Uma noite deve acontecer a serenata na janela e a vergonha entre os vizinhos.

Não lhe convence mais juras apaixonadas e ambiciosas no quarto se elas não são confirmadas na mesa do bar.

Assumir o namoro tem contornos delicados. Superou a primeira parte do drama: ambos confidenciaram o “eu te amo” na intimidade. Agora vem a segunda etapa: confessar o “eu te amo” para os outros, é dizer para todos do comprometimento, é sair de vez do mercado sentimental, é esclarecer em alto e bom tom que o coração está ocupado e não há vaga, é esvaziar as esperanças de casinhos e de flertes, é abandonar pretendentes e cantadas, é mudar o status nas redes sociais, é suportar as fofocas dos terceiros e as intrigas familiares.

Longe da exposição, o enlace de vocês se reduz a um delírio. É muito cômodo para ele – assim pode desembaraçar e terminar de repente, não precisando explicar o motivo do fim. Afinal, aos olhos dos amigos, não estão juntos, nunca existiram como casal, entende?

Ele foge por conveniência. Não é involuntário. Guarda exata noção do que vem fazendo e de seu provável desencanto. Mantém a união, curte os prazeres de sua companhia, enquanto prossegue a prospecção por novas mulheres. Não parou de caçar e de procurar um relacionamento melhor.

A atitude dele revela alguma vergonha. Ele não se enxerga seguro da história. Talvez seja muito feliz sexualmente ao seu lado, porém está desconfiando que você não é o perfil ideal para se gabar, seja por uma diferença cultural, seja de idade, seja de estilo de vida.

Experimenta um posto de amante exclusiva. Mas ainda amante.

É constrangedor ouvir “estamos saindo” aos demais quando ele fala a sós que você é o maior amor do mundo.

Tem que perguntar, tem que pressionar, tem que ser desconfortável.

Não quer colocá-lo na parede? Pois o abraço já é uma parede. Feche a saída e não permita que ele dê mais um passo antes de responder.

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