16
de janeiro de 2013 | N° 17314
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
Uma nova sombra
Uma
charge publicada ontem pelo jornal Le Monde mostra o presidente François
Hollande vestido como o personagem Tintim, empunhando uma pistola a bordo de um
caminhão militar. Os detetives trapalhões Dupond e Dupont contemplam a cena,
sob a bandeira da União Europeia. Um deles diz: Estamos todos contigo!.
E o
outro: Eu diria mais: estamos todos contigo!. A escalada militar francesa no
Mali desperta reações contraditórias numa Europa dividida e insegura quanto ao
futuro. Britânicos cederam aviões de transporte, espanhóis cogitam enviar
algumas dezenas de homens, mas, de resto, não há o menor entusiasmo pela
empreitada.
Os
jornais Financial Times, da Grã-Bretanha, e Frankfurter Allgemeine, da
Alemanha, chegaram mesmo a criticar um suposto giro de 180 graus na política
externa de Hollande. Afinal, o socialista foi o mesmo que retirou o contingente
francês do atoleiro do Afeganistão.
Hollande
defendeu-se com o argumento de que a ofensiva visa a proteger franceses em
território maliano e que será limitada no tempo. Até aí, nada de novo: nenhum
governante mobiliza seus cidadãos para uma guerra que não esteja ligada a sua
própria segurança ou que se prolongue indefinidamente.
A
estratégia delineada pelo presidente, porém, parece mais ambiciosa que a dos
aliados no Afeganistão: rechaçar a ameaça terrorista, proteger a capital,
Bamako, e ajudar o governo malinês a reconstruir a integridade de um território
maior que o da própria França. O envio inicial de algumas centenas de soldados
foi ampliado para uma operação que pretende envolver um total de 2,5 mil homens.
Os
rebeldes, cujas posições sofrem intenso bombardeio aéreo desde sábado,
controlam dois terços da área do país há mais de seis meses. Desde a
intervenção americana na Somália, em 1993, um conflito africano não atraía um
contingente tão expressivo de forças estrangeiras. Vinte anos depois, a guerra
no Mali lança uma nova sombra sobre o continente.
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