17
de janeiro de 2013 | N° 17315
MÃE
DE VESTIBULANDO | ROSANE DE OLIVEIRA
Tijolos nas
costas
Durante
o vestibular da UFRGS, a colunista Rosane Oliveira relatou a experiência de mãe
de vestibulanda.
Definição
da Luiza para o estado deplorável em que chegou em casa depois das últimas
provas do vestibular da UFRGS, perto das 13h:
– Tô
com tijolinhos nos ombros. Foi um massacre tão grande que as bolinhas do cartão
de resposta se multiplicaram, errei duas na hora de pintar e tive que pedir
ajuda para a fiscal para apagar o que tinha pintado errado.
Convidei-a
para o “bingo” do gabarito, mas recusou. Disse que preferia dormir primeiro e
conferir mais tarde, porque saber ou não saber quantas acertou não ia fazer
diferença. Ela estava tão cansada depois dessa maratona que dormiu e acordou
com a sensação de que contraiu o vírus da gripe. Não quis saber da “festa das
tintas” nem da noite comemorativa ao fim da maratona de provas, que estava
sendo combinada com os amigos.
Como
não está sendo pressionada a passar na UFRGS, Luiza pouco falou em média,
desvio padrão, densidade ou pontuação do último que entrou em 2012, informações
que estão na ponta da língua de quem fez cursinho. Se facilitar, é capaz de não
saber quantos candidatos tem por vaga no curso em que está inscrita, muito
menos quantas dessas serão reservadas aos cotistas.
Se
ela que já está matriculada em uma particular se estressou, imagine-se como
estão os que apostaram todas as suas fichas na UFRGS por convicção ou por
pressão familiar.
O
vestibular é o primeiro grande momento de tensão da vida da maioria dos adolescentes.
Somado ao estresse do que representa o fim do ciclo da educação básica, quando
as turmas se desfazem depois de anos e anos de convivência, é compreensível que
estejam querendo um pouco de sombra (ou de sol) e água fresca.
Eu
não poderia encerrar esta série de depoimentos sem reafirmar uma tese
impopular, que defendo há muito tempo: universidades públicas só deveriam ser
gratuitas para quem não pode pagar. Não vejo sentido em subsidiar o curso
superior dos que estão no topo da pirâmide.
Se
um dos filhos do Eike Batista passar no vestibular de uma universidade federal,
é justo que o pai pague pelo curso e que esse dinheiro seja usado para ampliar
as vagas do ProUni, por exemplo, e garantir acesso a universidade a quem não
consegue passar numa instituição pública porque teve uma educação básica
deficiente e não tem como custear uma faculdade particular.
A
gente volta a conversar quando sair o listão.
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