30
de janeiro de 2013 | N° 17328
ARTIGOS
- Percival Puggina*
Cruel
pedagogia
Do
alto de seus 20 anos, os jovens contemplam a vida como quem, do alto de uma
montanha, observa, extasiado, o mundo ao seu redor. Horizontes amplos,
infinitas trilhas e 360 graus de possibilidades. Nessa idade, eu me lembro
muito bem, a vida é eterna e a esperança infinita.
Só
os avós morrem quando se tem 20 anos. O velório de um jovem é inconcebível
ruptura com a ordem natural. Contudo, a morte espreita a juventude com olhos
cobiçosos. Enquanto os idosos morrem porque chegou a hora, porque dar adeus à
vida terrena é próprio da velhice, os jovens morrem de infinitas maneiras,
revelando inesperada vulnerabilidade.
Idosos
morrem porque não podem alterar o curso da vitalidade que se extingue. Jovens,
porém, morrem desnecessária e superfluamente, por motivos que poderiam ser
evitados. Essa é a tragédia das tragédias cotidianas. Ir-se assim, sem que nem
por quê? Jovens morrem nas ruas, nas estradas, nas brigas entre gangues, na
lenta e dolorosa morte das drogas, nas madrugadas em que a violência espreita,
nas infames brigas por motivos fúteis.
Morrem
nas aventuras e travessuras, na terra, na água e no ar. Por isso, pais e mães
carregam no peito uma incompreendida e permanente aflição. A respiração para
quando o telefone toca e para quando o telefone não toca. Paranoicos, nós? Não,
não. Simplesmente pais cuidadosos de filhos incautos, que creem haver bebido a
imortalidade no cálice da juventude.
As
grandes catástrofes carregam em seu script uma pedagogia brutal. Há nelas uma
lição sobre o que não fazer. Sua dissonante partitura se faz com notas que
pedem atenção e reflexão. Desafortunadamente, numa espécie de autodefesa,
cerramos os olhos e os ouvidos. E pouco aprendemos com as lições que nos vêm
dos sinistros e dos escombros.
Por
isso escrevo com a esperança de que a crudelíssima pedagogia dos fatos do dia
27 mostrem aos nossos jovens que nós, os pais, não somos coroas paranoicos a
vislumbrar perigo ali onde tudo indica morar a felicidade e a alegria. Por
isso, escrevo confiando em que os jovens não pressuponham que as autoridades
fazem sempre, em toda a parte, tudo o que lhes compete para garantir a sua
segurança.
Não!
Muitas vezes, é o contrário. Por isso escrevo desejando que os jovens, diante
de tão sofrida experiência, valorizem o dom maravilhoso da vida como uma dádiva
frágil a exigir prudência e atenção. As alegrias dos filhos serão maiores e as
aflições dos pais serão menores se, doravante, filhos e pais forem severos
fiscais da própria segurança onde quer que estejam.
*ESCRITOR
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