sexta-feira, 18 de janeiro de 2013



18 de janeiro de 2013 | N° 17316
PAULO SANT’ANA

Um mal-entendido

Se fosse só para responder ao leitor que mandou mensagem me espinafrando, não escreveria esta coluna.

Mas é muito bom até que isso tenha acontecido, para eu avisar todos os leitores, ouvintes e até telespectadores sobre um drama meu que está tendo seu auge nas ruas.

O leitor me escreveu dizendo que eu não o tratei bem na rua. E explicou que me viu na rua e tentou conversar comigo. E que eu aleguei que não o estava ouvindo.

E, quando ele pela segunda vez falou comigo, eu lhe disse que estava surdo.

E até me lembro bem desse leitor. Lembro-me porque por duas vezes eu lhe disse que estava surdo.

Pois bem, sabem o que me mandou dizer por e-mail o leitor? Pois me disse que o tratei mal porque menti a ele: não sou surdo. E disse que provava que eu não era surdo, tanto que participo duas vezes por semana do programa Sala de Redação e lá integro os debates. O raciocínio do leitor: se debato num programa de rádio duas vezes por semana, menti para ele que era surdo.

E finalizou me escrevendo que o destratei e que ele não merecia isso porque é (ou era) meu fã há décadas.

Quero explicar a este leitor e a todos, para evitar futuros mal-entendidos, que só faço o programa Sala de Redação porque me colocam dois fones nos meus ouvidos. E que o som que ouço nos fones não é o diretamente das vozes dos outros integrantes do programa.

O som que ouço nos debates radiofônicos de que participo é o som da rádio, que me vem multiplicado por cem ao meu ouvido direito, pelo que então trabalho normalmente, ouvindo tudo o que me dizem os colegas.

Depois dessa necessária explicação, quero ainda mandar dizer ao ouvinte queixoso, após esta injustiça que ele me fez, que ele me mandou dizer que eu recusava a ouvi-lo, quando tudo o que eu queria na vida era poder ouvi-lo. Tudo o que eu mais sonho na vida é poder ouvir novamente as pessoas. E o ouvinte me fez esta bárbara injustiça.

No meu ouvido esquerdo, numa escala de zero a 10, eu ouço zero, isto é, absolutamente nada. No meu ouvido direito, numa escala de zero a 10, eu ouço três. Três, meu queixoso leitor!

E, se a pessoa é dessas que falam baixo, aí é um desastre. Tanto quando as pessoas falam bem alto comigo, só ouço distantes murmúrios.

Meu problema está tão grande que o maior sonho que tenho atualmente é de que, nas ruas ou nos recintos que frequento, todas as pessoas que desejassem falar comigo viessem munidas de megafones.

Como não é possível...

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