31
de janeiro de 2013 | N° 17329
PAULO
SANT’ANA
O perigo de viver
Escrevi
inúmeras vezes neste espaço que era perigosíssimo ser jornalista e que quem
exercia esta profissão corria todos os dias grandes riscos.
Vejo
só agora que foi uma bobagem o que escrevi: não é perigoso ser jornalista,
perigoso é viver.
Vou
dar um exemplo: quem calcularia que os mais de 230 jovens que morreram na boate
em Santa Maria, quando se dirigiram para a festa, estavam correndo risco?
Rigorosamente, ninguém imaginava que era perigoso ir a uma festa.
E,
no entanto, como os fatos provaram, foi terrivelmente perigoso.
É perigoso
casar-se e ainda perigoso ficar solteiro. É perigoso, portanto, viver.
Não
há nada mais perigoso do que entrar no trânsito dirigindo. Mas ficar em casa
sem dirigir é perigoso também, pode a casa ser tragada pela terra, como tantas
vezes aconteceu, como anteontem aconteceu na China.
É perigoso
ser autoridade e mais ainda que perigoso é não ser autoridade e ser governado
como súdito.
É perigoso
acordar com a notícia de que os combustíveis tiveram seus preços aumentados. E
já pensaram no perigo que encerrava para o Grêmio o jogo que ele teria à noite
contra a LDU?
É perigosíssimo
ser velho, mas a juventude encerra mil perigos ao seu redor.
É perigoso
apaixonar-se, mas às vezes é ainda mais perigoso não amar ninguém, pode-se
morrer de tédio.
É perigoso
fazer a assinatura de um jornal, tomando conhecimento de tragédias terríveis,
mas não assinar o jornal encerra perigos ainda maiores, entre os quais o de
alienar-se do mundo, o que é fatal.
Já fiz
muitas ressonâncias magnéticas com contraste na veia para cuidar da minha saúde.
Sempre entreguei minhas veias para o contraste com desconfiança.
Pois
não é que anteontem morreram três pessoas em Campinas pelo motivo direto de que
foram submetidas a contrastes em ressonâncias magnéticas?
Ou
seja, perigoso é viver. Vou mais longe, viver é mais perigoso que morrer.
O único
perigo que a morte encerra é de morrermos amanhã e sermos esquecidos para
sempre.
Eu
me tracei o dever de nunca esquecer, jamais, os mortos, como os de Santa Maria.
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