15
de janeiro de 2013 | N° 17313
PAULO
SANT’ANA
O mensalão de
Lincoln
Sensacional!
Sensacional! É que o filme Lincoln, que tem o maior número de indicações para o
Oscar do próximo dia 24 de fevereiro, revela que Abraham Lincoln, o 16º
presidente dos Estados Unidos, subornou dezenas de parlamentares democratas
para ver aprovada no Congresso a emenda da Abolição.
Sensacional!
E nós pensávamos que o mensalão fosse uma criação nossa.
Recapitulemos
o que aconteceu. Em 1863, estava terminando a Guerra da Secessão, travada entre
11 Estados confederados do Sul, que não queriam a abolição da escravatura,
contra o restante dos EUA, vencida no conflito pelos abolicionistas, quando
Lincoln deparou com um terrível impasse: tinha sido vencida a guerra, mas era
preciso que a lei fosse modificada e se instaurasse a abolição.
Só
que faltavam dezenas de votos para completar os dois terços do Congresso
necessários para aprovar a emenda respectiva. Foi quando Lincoln, desesperado,
nomeou uma comissão sigilosa encarregada de subornar os votos abolicionistas
que faltavam.
Isso
foi feito e a história registra, como centralmente disso se ocupou o filme
Lincoln, que o presidente mais célebre da história americana praticou o
mensalão para retirar do mapa norte-americano uma das suas mais sujas nódoas
republicanas: a escravidão.
O
mensalão de Lincoln, há que se argumentar, foi assim corrompido visando a uma
causa nobre. O mesmo se pode dizer do mensalão brasileiro, que durante dois
anos subornou parlamentares daqui para votar a favor de causas justas, entre as
quais a reforma da Previdência.
Tal
como Lula e Fernando Henrique, Lincoln obteve sua reeleição. Por sinal, Lula e
Lincoln foram reeleitos, mas quando se elegeram pela primeira vez já constava
das duas Constituições respectivas o instituto da reeleição.
Já
com Fernando Henrique, quando se elegeu pela primeira vez não havia a
reeleição, ela foi criada e se diz que muita gente foi subornada para aprovar a
emenda da repetição de mandato. Interessante.
A
diferença entre o mensalão de Lincoln e o de José Dirceu é que nos EUA ninguém
foi condenado por pagar ou receber suborno para votar a favor do governo.
Embora
aqui no Brasil muitos parlamentares tenham sido condenados pelo mensalão, até
agora nenhum foi parar na cadeia, pairando atualmente sobre o Supremo
brasileiro a seguinte dúvida: como dois ministros do Supremo vão se aposentar e
assumirão outros dois substitutos nomeados pelo governo, além do novo ministro
Teori Zavascki, serão levadas à frente e radicalmente as sentenças
condenatórias ou a nova constituição do tribunal máximo e superior cederá
diante de recursos dos réus e embargos infringentes e declaratórios que ainda
faltam ser examinados?
Ou
seja, se decidirá proximamente no Brasil sobre aquela sentença popular que diz
que, em nosso país, político nenhum vai para trás das grades por atos cometidos
na função pública.
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