sábado, 19 de janeiro de 2013



20 de janeiro de 2013 | N° 17318
VERISSIMO - As aventuras da família Brasil

Tiquinho

A turma se reunia todo fim de tarde no mesmo bar, na mesma mesa. O número variava entre os mais e os menos assíduos. Um que nunca falhava era o Tiquinho, que tinha este apelido porque era pequeno e magro e sempre que pedia alguma coisa para acompanhar o chope, pedia um tiquinho.

O Tiquinho chegava sempre cedo no bar para garantir a mesa, explicava e ficava esperando os outros. Além de ser uma espécie de gerente da mesa (Senta ali que aí tem uma corrente de ar, garçom, este lado tá sem chope etc) e mantê-la bem abastecida de tiquinhos, o Tiquinho sabia tudo sobre a vida de todos. Ele quase não falava, mas quando queriam notícia de alguém era só perguntar pro Tiquinho.

– Que fim levou o Almiro, que não aparece mais?

– Foi transferido para Santa Catarina.

– E foi sem se despedir?

– Ele diz que não aguenta lá por muito tempo. Vão morar com a família dela...

A ausência surpreendente de um assíduo? Tiquinho explicava.

– A mulher está tendo uma gravidez difícil. Ele não sai do lado dele.

– Pô. Nem prum chopinho com a turma?

– A mulher não deixa. Ainda mais depois daquela história dele com a Eneida.

– Que história?

E o Tiquinho contava a história com a Eneida, em detalhes.

Um dia, aconteceu. O próprio Tiquinho não apareceu no bar. Um dia, podia ser gripe. Dois dias, gripe forte. Três dias... Já era de preocupar. O que teria havido com o Tiquinho? E como o Tiquinho não estava ali, não tinha ninguém para responder.

– Alguém deveria ir na casa dele ver o que houve.

Mas ninguém sabia o endereço do Tiquinho.

– Pensando bem, eu nem sei o nome dele.

Ninguém sabia.

Talvez o garçom soubesse alguma coisa. Ou o dono do bar.

Ninguém sabia.

Alguém teve a ideia de procurarem nos anúncios fúnebres. Às vezes, nos convites para missas do sétimo dia, aparecia o nome do morto e, embaixo seu apelido. Nono, Dudu, Vô Dadá, Batata, Tio Bituta, Gordo... Apareceu um Tico. Seria ele? Odorico Grobb Ferraz (Tico). Quem fazia o convite era uma Sra. Dolores Nonoai Ferraz e filhos.

Decidiram ir à missa para ver se a viúva e os filhos combinavam com o Tiquinho. Negativo. Eram todos robustos, nada a ver com o Tiquinho que conheciam. O grupo já estava saindo da igreja, decepcionado, quando ouviu um psst. Era o Tiquinho! Que não esperou as perguntas e já foi logo informando: aquele Tico era um tremendo pilantra que jogara fora todo o dinheiro herdado pela dona Dolores e...

– Mas Tiquinho, por que você sumiu de repente?

Tiquinho tirou os óculos escuros e mostrou:

– Terçol. Tá quase bom.

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