ELIANE
CANTANHÊDE
O bode Galeguinho
BRASÍLIA
- Vamos ver se a gente está entendendo tudo direitinho. O favorito à presidência
da Câmara, Henrique Alves, apresenta emendas parlamentares, o dinheiro é liberado
pelo governo, chega à prefeitura e volta feito bumerangue para o gabinete do próprio
Henrique, via empreiteira de um assessor?
E a
tal "empreiteira" tem contratos de R$ 6 milhões com 20 municípios do
Estado do deputado, o Rio Grande do Norte, mas funciona numa casinha
praticamente vazia, protegida pelo simpático bode Galeguinho?
Essas
reportagens de Leandro Colon, aqui na Folha, não são sobre a disputa pelas
presidências de um Poder, um pilar da democracia. São, sim, sobre uma realidade
tipicamente brasileira, em que público e privado se embolam num palco mais
policial do que político. Isso é Brasil!
O
curioso é que tanto Henrique Alves quanto o favorito à presidência no Senado,
Renan Calheiros (AL), sabiam perfeitamente que entrar em campanha seria sair do
conforto para a guerra. Uma coisa é ser mais um no meio da multidão de 513
deputados ou de 81 senadores. Outra, bem diferente, é disputar a presidência e
virar alvo. Era óbvio que os, digamos, "podres" iriam aparecer.
Isso
anima candidatos alternativos, como Júlio Delgado (PSB-MG) na Câmara e Randolfe
Rodrigues (PSOL-AP) no Senado. As chances são muito pequenas, mas eles se
oferecem como voto de repúdio. Será que não há uma parcela de indignados e
independentes no Congresso?
Renan
e Henrique têm o seu partido, o PMDB, e mais o PT, o Planalto, a base aliada e
parte da oposição, a começar do PSDB. É uma folgada maioria, mas minorias também
têm seu valor. Precisam ser quantificadas nas eleições de fevereiro.
O
risco dos favoritos é assumir as presidências enfraquecidos, acossados pelos
aliados e com a imprensa nos calcanhares, exibindo os bodes, galeguinhos ou não,
que enxovalham a imagem do Congresso.
elianec@uol.com.br
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