quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



16 de janeiro de 2013 | N° 17314
DIANA CORSO

Mudança

Desconfiada, fui assistir ao filme sobre um menino e um tigre náufragos. Não fossem as recomendações de pessoas próximas que me garantiram ser imperdível, não teria ousado. Isso dito por uma incorrigível fã de filmes de aventura, fantasia e ficção infantojuvenil. Com a mesma confiança dos apreciadores que me deram esse presente, recomendo ao leitor: se já não viu, não perca!

A magia da jornada marítima do garoto indiano funciona porque Ang Lee, diretor de As Aventuras de Pi, administra o improvável, as cenas malucas, com boas doses de humor sutil. O filme é mais do que uma aventura, é uma pulga atrás da orelha sobre como ver e narrar a própria vida. A organização da informação, que devemos a jornalistas e historiadores, é imprescindível, mas insuficiente para fazer-nos compreender quem somos, onde estamos e o que diabos aconteceu. Precisamos mais do que isso. Para isso, servem a ficção, a fantasia, a beleza dos diversos tipos de vozes e olhares.

São essas recriações da verdade que nos tornam capazes de elaborar um trauma qualquer. Não precisa ser uma guerra, uma catástrofe, um abuso, também ficamos marcados pela morte de um avô, pela ocasião em que esqueceram de nos buscar na escola, pela perda do primeiro amor.

Contado com arte, o vivido transforma-se em algo que pode ser visto e compreendido de vários jeitos. Por isso, longe de ser supérflua, a arte é um instrumento de crescimento e equilíbrio emocional eficaz para todas as idades. Artigo de primeira necessidade!

Passaram-se quase 12 anos desde setembro de 2001, quando recebi um telefonema da Cláudia Laitano, convidando-me a uma contribuição quinzenal neste espaço do Segundo Caderno. Tenho escrito estas colunas, misto de crônica e miniensaios, sobre fatos reais e imaginários. Esta é a última vez que sou publicada aqui. Migro para o espaço de Opinião da Zero Hora, mensalmente aos domingos, além de outras escritas esporádicas.

A duras penas, aprendi que as histórias que pedem para ser contadas pelo colunista por vezes são fatos, outras ficção. Seguirei falando sobre produtos culturais, que não passam de ilusões, exatamente como os sonhos: tramas inverídicas em que os psicanalistas garimpam as maiores verdades!

A realidade por vezes é grande demais, é como um alimento cru que necessita preparo para ser absorvido por nossos estômagos frágeis. Nos jornais e nas revistas, o artigo, o ensaio, a crônica, a coluna tentam dar forma ao que vivemos sem entender. (Nos divãs também.) Loucos, pretensiosos, esses jornalistas e escritores. Gracias, Cláudia, por ter me convidado a ser como eles!

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