sábado, 12 de janeiro de 2013



12 de janeiro de 2013 | N° 17310
NILSON SOUZA

O caminho das pedras

Cena rara na minha caminhada matinal pelo calçadão de Ipanema, um jovem lê um livro no banco de madeira mais afastado do movimento. Curioso, paro para espiar o título. É de poesia: A Educação Pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto. Diante do meu olhar de espanto, o menino se justifica:

– É para o vestibular!

Só podia ser, penso, mas não comento. Fazia muito tempo que não via um adolescente lendo em praça pública. Aliás, não os tenho visto fazer isso nem entre quatro paredes. A garotada da era digital só lê impresso por obrigação. Por isso, também me senti obrigado a dar um retorno diante daquela inesperada visão e da atenciosa explicação do jovem leitor. Sugeri:

– Já que estás neste tema, procura ler também a parábola do cortador de pedras.

Ele sorriu um “tá” e retornou à leitura, e eu à minha caminhada e aos meus pensamentos. Seria bom que lesse mesmo. Seria bom que todos os jovens que vão encarar o vestibular prestassem atenção na célebre mensagem de Jacob Riis, que é breve, de fácil compreensão e muito poderosa.

“Quando nada parece dar certo – escreveu ele –, eu observo o cortador de pedras. Ele martela uma, duas, centenas de vezes, sem que uma só rachadura apareça. Porém, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas. E eu sei que não foi aquela pancada que operou o milagre, mas todas as que vieram antes”.

Martelar – eis o segredo do sucesso, no estudo, no trabalho, na vida. E principalmente no vestibular, esse doloroso rito de passagem da adolescência para a maturidade. A pressão é grande. E nem sempre vem dos pais, como se poderia imaginar. Na maioria das vezes, os próprios meninos e meninas se cobram, temem perder a sintonia com os colegas da mesma idade, querem sentir-se reconhecidos. E se angustiam, porque julgam-se despreparados. O vestibular é uma verdadeira pedra de ansiedade no caminho dos jovens.

Com pedras, já disse um outro sábio pensador, a gente constrói degraus. Ou tropeça nelas. Ou as transforma em munição. Ou senta nelas para descansar. Ou lapida obras de arte. Alguns levantam muros. Outros edificam pontes e castelos. E as pedras não são muito diferentes. A diferença é o ser humano que as manuseia.

Já levei a recomendação do jornalista dinamarquês à prática. Observei, de fato, o trabalho dos cortadores numa pedreira do meu bairro. Eles riscam o bloco de granito e vão abrindo pequenas fendas com ferros pontiagudos e marretas. Batem, batem, até que suas mãos também adquiram calos de pedra. Parece um esforço inútil. Lá pelas tantas, porém, uma marretada certeira faz a pedra abrir-se em duas, como se tivesse sido serrada por um instrumento invisível. Este instrumento chama-se persistência.

Desejo muito que o espírito do cortador inspire a meninada que vai para a prova neste final de semana. Se não der desta vez, dará na próxima. É só martelar. E jamais desistir.

Nenhum comentário: