15
de janeiro de 2013 | N° 17313
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Professor? Mas por quê?
Vi
no Facebook a divulgação de um vídeo do Gustavo Reis, professor de matemática
bem conhecido de vestibulandos e outras atordoadas criaturas. Matemática,
aquela matéria de que quase todo mundo foge assim que passa a fase da regra de
três, quando não antes. O vídeo é de sua palestra do TEDxUnisinos. (TEDx
consiste em palestras de 15 minutos, em que alguém interessante dá seu recado.
Esses tempos assisti a uma genial, uma inteligentíssima visão sobre arte
(http://bit.ly/TVlbBe).
O
Gustavo conta sua opção por ser professor. Sujeito oriundo das classes
confortáveis do país, tendo sido aluno brilhante, com aprovação de vestibular
aos 16 anos para Computação e depois de formado tendo vivido cinco anos nos
Estados Unidos como profissional do ramo, ele resolveu assumir essa vocação
esquisita de ser professor (de matemática, não bastasse).
Tendo
dado algumas aulas ainda adolescente, percebeu, aos 25 anos e uma carreira
promissora na meca da informática, que gostava mesmo era de dar aulas, com tudo
que isso envolve, da intensa satisfação afetiva às duras limitações de
dinheiro. Hoje ele é bem-sucedido, como professor que aplaina os caminhos de
muita gente e como empreendedor que viabilizou otimamente seu trabalho.
O
que me fisgou mais de perto foi seu depoimento sobre a estranheza dos outros,
quando ele decidiu ser professor. Imediatamente lembrei de meu próprio trajeto.
Numa escala diferente, mais modesta, passei por algo assim. Entrei no curso de
Geologia, da UFRGS; andei por lá cinco semestres, nos quais inclusive estudei
um tanto de matemática superior, derivadas, integrais e um monte de álgebra,
que me credenciaram para ler com gosto livros de história da matemática, como
aquele sensacional O Último Teorema de Fermat, de Simon Singh. Mas mudei para
Letras, onde me formei e que é a minha praia, desde então.
Ocorreu
uma coisa sintomática, comigo naquele momento, com o Gustavo em seu âmbito:
muita gente estranhava a mudança; quem não sabia que eu tinha antes transitado
pela Geologia sorria superior, supondo que eu não tinha capacidade para outra
coisa que não as desprestigiadas Letras, caminho do miserável magistério; no
geral, me olhavam com pena. Exemplo eloquente da lamentável fragilidade social
do mundo do ensino.
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