Nova visão crítica da China
O
professor, ensaísta e poeta chinês Liu Xiaobo, nascido em 1955, em Changchun,
na província de Jilin, recebeu o Nobel da Paz de 2010. Muitos o consideram o
principal intelectual e escritor da China. Desde 2008 está na prisão, por conta
do processo em que foi acusado de tentativa de desmoralização do Estado.
Vai
ficar preso até 2020. Não foi à Suécia para receber o Nobel. Sua esposa, Liu
Xia, em prisão domiciliar, também não foi. O diploma e o prêmio foram deixados
numa cadeira vazia.
A
atriz Liv Ullmann leu o longo discurso que Liu preparou para seu julgamento, em
2009. Não tenho inimigos, desconheço o ódio - escritos e poemas escolhidos, há pouco
lançado pela L&PM, traz textos e poemas do autor, pela primeira vez em
português, revela o dissidente mais importante do governo chinês e apresenta
ensaios claros e consistentes sobre política, cultura, sociedade e movimento
democrático no país de Mao.
Embora
Liu Xiaobo há décadas seja o crítico mais proeminente das mazelas de sua terra,
até bem pouco quase nada de sua obra estava à disposição do público ocidental. No
discurso lido por Liv, Liu disse: “Não tenho inimigos, desconheço o ódio.
Ninguém,
nem os policiais que me vigiaram, prenderam e interrogaram, nem os procuradores
do Estado que expediram o mandado de prisão, nem os juízes que me condenaram são
meus inimigos. O ódio pode apodrecer a sabedoria e a consciência de um homem, o
ressentimento envenena o espírito do povo, provoca batalhas brutais de vida e
morte, destrói a tolerância e a humanidade de uma sociedade, obstrui o caminho
da sociedade na direção da liberdade e da democracia.”
O
discurso está no livro, com as peças do processo movido contra ele. Liu passou o período da
Revolução Cultural na Mongólia interior. Estudou literatura e doutorou-se em 1988
pela Universidade de Beijing. Professor universitário na China, foi convidado a
lecionar nas universidades de Oslo, de Colúmbia e do Havaí. Voltou em função
dos protestos estudantis de 1989 e mediou os conflitos, tentando soluções pacíficas.
Seus dezessete livros e o restante da obra foram banidos na China, sua carreira
acadêmica foi extinta e ele passou vários anos em campos de reeducação. Foi
preso quatro vezes.
Em 2003,
assumiu a presidência do PEN Clube Chinês. Em 2008, assinou a Carta 08, na qual
pedia reformas políticas. Não tenho inimigos, desconheço o ódio, além da elegância
e do virtuosismo literário, dá aos leitores uma nova e sábia visão sobre a
China, com reflexões e críticas fundamentadas.
É obra
essencial para os que buscam entender o mundo atual e possíveis desdobramentos.
Organização de Tienchi Martin-Liao e Liu Xia, prefácio de Vaclav Havel e tradução
de Petê Rissatti, 360 páginas, L&PM Editores, www.lpm.com.br.
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