sexta-feira, 18 de janeiro de 2013



Nova visão crítica da China

O professor, ensaísta e poeta chinês Liu Xiaobo, nascido em 1955, em Changchun, na província de Jilin, recebeu o Nobel da Paz de 2010. Muitos o consideram o principal intelectual e escritor da China. Desde 2008 está na prisão, por conta do processo em que foi acusado de tentativa de desmoralização do Estado.

Vai ficar preso até 2020. Não foi à Suécia para receber o Nobel. Sua esposa, Liu Xia, em prisão domiciliar, também não foi. O diploma e o prêmio foram deixados numa cadeira vazia.

A atriz Liv Ullmann leu o longo discurso que Liu preparou para seu julgamento, em 2009. Não tenho inimigos, desconheço o ódio - escritos e poemas escolhidos, há pouco lançado pela L&PM, traz textos e poemas do autor, pela primeira vez em português, revela o dissidente mais importante do governo chinês e apresenta ensaios claros e consistentes sobre política, cultura, sociedade e movimento democrático no país de Mao.

Embora Liu Xiaobo há décadas seja o crítico mais proeminente das mazelas de sua terra, até bem pouco quase nada de sua obra estava à disposição do público ocidental. No discurso lido por Liv, Liu disse: “Não tenho inimigos, desconheço o ódio.

Ninguém, nem os policiais que me vigiaram, prenderam e interrogaram, nem os procuradores do Estado que expediram o mandado de prisão, nem os juízes que me condenaram são meus inimigos. O ódio pode apodrecer a sabedoria e a consciência de um homem, o ressentimento envenena o espírito do povo, provoca batalhas brutais de vida e morte, destrói a tolerância e a humanidade de uma sociedade, obstrui o caminho da sociedade na direção da liberdade e da democracia.”

O discurso está no livro, com as peças do processo  movido contra ele. Liu passou o período da Revolução Cultural na Mongólia interior. Estudou literatura e doutorou-se em 1988 pela Universidade de Beijing. Professor universitário na China, foi convidado a lecionar nas universidades de Oslo, de Colúmbia e do Havaí. Voltou em função dos protestos estudantis de 1989 e mediou os conflitos, tentando soluções pacíficas. Seus dezessete livros e o restante da obra foram banidos na China, sua carreira acadêmica foi extinta e ele passou vários anos em campos de reeducação. Foi preso quatro vezes.

Em 2003, assumiu a presidência do PEN Clube Chinês. Em 2008, assinou a Carta 08, na qual pedia reformas políticas. Não tenho inimigos, desconheço o ódio, além da elegância e do virtuosismo literário, dá aos leitores uma nova e sábia visão sobre a China, com reflexões e críticas fundamentadas.

É obra essencial para os que buscam entender o mundo atual e possíveis desdobramentos. Organização de Tienchi Martin-Liao e Liu Xia, prefácio de Vaclav Havel e tradução de Petê Rissatti, 360 páginas, L&PM Editores, www.lpm.com.br.

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