ELIANE CANTANHÊDE
O
rei
BRASÍLIA - Chega a ser patética a foto de Lula no gabinete
do prefeito de São Paulo, sentado entre Fernando Haddad e a vice Nádia Campeão,
dando ordens, mostrando quem é o chefe. Pobre Haddad.
Não satisfeito em impor seus candidatos à Presidência e à
Prefeitura de São Paulo, não satisfeito com as duas vitórias espetaculares e
não satisfeito com a percepção geral sobre quem manda e quem obedece, Lula quer
mais: quer oficializar publicamente a tutela dos pupilos.
Chegou de férias num dia, assumiu a prefeitura no dia
seguinte e já determinou que a prioridade é conter as enchentes e as chacinas
na capital. Os efeitos no marketing e na popularidade são muito danosos...
Reduzido a pau-mandado, Haddad não vai poder reclamar quando
os secretários despacharem diretamente com Lula, assim como os ministros de
Dilma fazem fila na porta dele quando realmente importa.
Lula tenta se apossar, na prática, do mandato da sucessora,
que sofre críticas (pibinho, inflação, temor de racionamento e maquiagem de
números oficiais). Ela reage. Convocou pesos-pesados da indústria, reduziu
tarifas de luz, baixou juros de moradia para a classe média alta e negociou o
adiamento do reajuste de ônibus em São Paulo e no Rio.
No final, vai a Lula, provavelmente no dia 25, próxima
sexta-feira, prestar contas e aprender melhor que, entre o que é necessário e a
popularidade, cuide-se da popularidade...
Com Haddad e Dilma instruídos e sob controle, Lula estará
livre para retomar as "Caravanas da Cidadania", tão importantes para
sua vitória em 2002. Vai de região a região reaquecer a adoração popular por
ele.
Além de buscar uma cara promissora e com credibilidade para
depois tutelar no governo de São Paulo -uma nova Dilma, um novo Haddad-, tanta
mobilização sugere que é cedo para descartar Lula em 2014.
Ele fala em destravar a economia, o governo e a Dilma, mas o
problema dela é o oposto: travar o Lula.
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