22
de janeiro de 2013 | N° 17320
CLÁUDIO
MORENO
A mulher do poeta
Até passar
dos cinquenta, William Butler Yeats, um dos mais importantes poetas de nosso
tempo, teve muito pouca sorte com as mulheres que amou. Maud Gonne, a bela e
culta ativista irlandesa, foi sua grande musa inspiradora e só não se tornou
sua esposa porque não quis; muitas vezes, ao longo de dez anos, ele insistiu em
pedir a sua mão, até que ela deu a mais definitiva das respostas, casando com
outro homem.
Quando
Maud ficou viúva, em 1916, Yeats, que ainda era obcecado por ela, renovou o
pedido de casamento. Diante de mais um não, o poeta ainda tentou trocar a mãe
pela filha, a atraente Yseult Gonne, cujo brilho começava despontar no meio artístico
do Reino Unido; assim como a mãe, porém, a moça também recusou, e Yeats,
desiludido, entendeu que era a hora de abandonar para sempre aquela velha
fantasia.
Foi
só então que enxergou, bem a seu lado, Georgie Hyde-Lees, jovem intelectual
inglesa que, como ele, fazia parte da Ordem da Aurora Dourada, uma sociedade mística
reservada para iniciados. Decidido a casar em outubro de 1917 (como determinava
seu horóscopo), Yeats abreviou as etapas costumeiras e pediu a mão de Georgie,
que aceitou sem hesitar.
A
lua-de-mel, porém, num hotelzinho no campo, começou muito mal, pois ele,
inseguro pela diferença de idade (“para ela, eu falo uma língua incompreensível”),
talvez até arrependido, passou os dois primeiros dias absorto em escrever um
poema dedicado à jovem Yseult. Georgie, então, teve a inspiração que mudou para
sempre a vida deles: tomando papel e lápis, iniciou uma sessão de escrita automática,
como costumava fazer na Aurora Dourada, enchendo a página com linhas traçadas
por sua mão mas “ditadas por espíritos conselheiros que vinham ajudá-la”.
Vivamente
interessado, Yeats perguntou sobre a angústia que o torturava; a resposta foi
instantânea: “Você fez o bem tanto à gata quanto à lebre”, numa clara referência
a Iseult e a Georgie. Yeats respirou, aliviado: tinha tomado a decisão acertada.
Dessa
forma, durante dois anos, realizaram 450 sessões, que renderam 3.600 páginas
escritas, agora publicadas. Pelo que se vê ali, os espíritos amigos falam ao
poeta sobre tudo, não só sobre sua obra: informam (era o assunto do momento!) de
que cabe ao marido proporcionar prazer à esposa, avisam-no de quando a médium
está triste, solitária, ou faminta, ou de quando ela quer sexo, e de que jeito,
ou de quando devem ter um filho.
Como
esses conselheiros sempre tomam o partido de Georgie, alguns biógrafos acusaram-na
de se aproveitar da credulidade do marido para enganá-lo.
Mas
que gente tosca! Era um jogo que o casal criou para se entender: ela fingia
receber as mensagens, ele fingia acreditar, e ela fingia acreditar na
ingenuidade dele. Os espíritos, esses, certamente compreenderam e deram boas
risadas com a astúcia feminina: não eram eles que usavam Georgie para se
manifestar, mas simplesmente o contrário.
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