28
de janeiro de 2013 | N° 17326
MARTHA
MEDEIROS
Nós que temos
filhos
Qualquer
pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem como não se colocar no lugar dos
pais, dos avós, dos tios daquela garotada que saiu no sábado à noite para se
divertir e que foi vítima do destino – poderíamos também chamar de descaso,
insensatez, irresponsabilidade –, mas é cedo para diagnósticos precisos.
Destino é uma palavra mais abrangente.
Tenho
duas filhas que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares
fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo,
simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém
deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou.
Sei
de dois irmãos e de um casal de namorados que tinham relações com amigos meus e
que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não conhecia ninguém. Isso me afasta
da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a não ser que não tenhamos
compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo individualista como o
nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento: compaixão. Se colocar no
lugar do outro. Dói, mas é necessário.
Quem
não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é algo que se explique. Nenhum
racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar e nos faz lembrar o que
tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da
vida.
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