DENISE
CHIARATO
A vingança do Pinheiros
SÃO PAULO - A imagem da favela de
Paraisópolis ao lado de um condomínio de alto padrão no Morumbi, aquele com
terraços em forma de leque para exibir as piscinas privativas de cada um de
seus apartamentos, sempre foi um símbolo da desigualdade em São Paulo.
Mas a foto de Tuca Vieira, de
2004, não é o único retrato disso. Nos últimos anos, a cidade ganhou edifícios
supermodernos, de fazer inveja a Dubai, tendo como vizinho o poluído e fétido
rio Pinheiros.
O rio Pinheiros é uma dessas
vergonhas paulistanas. Assim como o Tietê, não há perspectivas de um dia ele
ganhar vida. O Estado levou dez anos e gastou mais de R$ 160 milhões para
descobrir que o método de despoluição usado, por meio da flotação, não serviu
para nada.
Como quem admite a incapacidade
de limpar o rio, o governo anunciou uma nova estratégia: tentar eliminar o
cheiro do Pinheiros.
O projeto ainda não foi
implantado e quem passa -e respira- perto do Pinheiros sabe que a situação só
piora a cada dia.
Enquanto nem a poluição nem o
cheiro desaparecem, o rio, como vingança, parece ter conseguido fortalecer seus
aliados: os pernilongos.
Moradores da zona oeste sofrem
todo verão com a praga desses insetos, cujas larvas se beneficiam de água
parada e sem oxigenação -exatamente o caso do Pinheiros.
Se isso não bastasse, o poder
público, nesse caso a prefeitura, ainda facilita essa vingança. Um imbróglio
jurídico que se arrasta desde 2008 emperra a compra de veículos usados pelos
funcionários que localizam os criadouros dos mosquitos. Segundo a própria prefeitura,
faltam 550 carros para regularizar esse serviço -que vem sendo feito na base do
improviso, para a alegria dos insetos.
Pelo menos o pernilongo é mais
democrático que a cidade: ataca quem aparece pela frente, do morador da favela
ao do apartamento com piscina privativa.
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