17
de janeiro de 2013 | N° 17315
ARTIGOS
- José Alberto Wenzel*
Ainda corre o Jacuí
Um
grupo de pessoas se juntou à frente dos colegas na sala verde do prédio nº 55
da Rua Carlos Chagas. Corria o ano de 2003, o momento espelhava dificuldades.
As discussões em torno do Delta do Jacuí fluíam acirradas, o Programa
Pró-Guaíba completaria uma década, quando deveria ter sido concluído, em sua
primeira fase, havia quatro anos. Problemas acumulavam-se aparentemente maiores
do que as possíveis soluções.
Do
grupo de colegas postados em semicírculo, adiantou-se a maestrina. “Colegas e
amigos, vamos entoar o Cio da Terra. Mas antes – e uma pausa suspendeu-se no ar
– é importante que se diga que se muitos não nos compreendem, se outros tantos
nos distratam e acusam, saibamos perceber a aprovação que vem das plantas e
animais que permanecem vivos, das águas que continuam a completar seu ciclo e
das terras que insistem em sua fertilidade. Lembremos especialmente os humanos
que respiram o ar que ajudamos a cuidar.”
Com
suave energia, a maestria virou-se para o coral e o Cio da Terra foi vibrantemente
entoado. Ao final, um segundo de silêncio reverente soou mais forte que os
aplausos efusivos que se seguiram.
Logo
ali adiante, as águas do Guaíba, avolumadas pelo Jacuí, seguiam seu fluxo.
Águas que guardam os segredos do cádmio e do mercúrio, das dioxinas e furanos
mensuráveis em partes ínfimas, a ponto de serem consideradas inexistentes. Eis
que, além dos microvenenos, as águas sofrem os descalabros das dragagens
criminosas, em desacordo com as restrições determinadas quando do licenciamento
ambiental.
Hoje,
as dragagens inescrupulosas; ontem, enchentes entremeadas por secas; anteontem,
sangue e vísceras de curtumes e matadouros e o odor pestilento da Borregaard.
Anteontem em 1974, a Coordenadoria de Controle do Equilíbrio Ecológico; ontem,
em 1979, o Departamento do Meio Ambiente, e hoje, após 1990, a Fepam.
Dias
e tempos sequenciados por problemas e dificuldades, mudanças de siglas e
denominações, mas de permanente determinação dos servidores e dirigentes da
Fepam e da Sema – Secretaria Estadual do Meio Ambiente, na luta pela manutenção
de um ambiente saudável.
Em
todos os períodos de transição, as inconformidades se repetiram: falta de
pessoal e de condições de trabalho, além do espaço exíguo. Em todos os
episódios, da Coordenadoria à Fepam, os órgãos ambientais nunca se furtaram à
sua responsabilidade, postando-se presentes e à frente, para ouvir a crítica
oportuna e necessária, mas sobretudo para tomar as decisões imprescindíveis.
Aos enfrentamentos, a resposta revigorada.
Agora,
a maestrina observa seu coral mais sofrido, porém adensado em valor, enquanto
nos pergunta: “O que seria do Jacuí sem a Fepam?”.
*GEÓLOGO
E EX-SECRETÁRIO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE
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