14
de janeiro de 2013 | N° 17312
PAULO
SANT'ANA
A força do
destino
Eu
queria falar sobre o detalhe mais importante da vida humana: o destino.
Vejam
o destino dessa mulher que foi sepultada ontem em Passo Fundo: ela foi até o
Paraguai, certamente para fazer compras. Só vai ao Paraguai para vender quem é
ladrão de carro roubado no Brasil.
Ela
caminhava tranquilamente sobre a Ponte da Amizade, já do lado paraguaio, quando
surgiu um assaltante que sem nada dizer desferiu-lhe um tiro de revólver que
veio a matá-la. Depois do tiro, o assaltante, com os circunstantes da mulher
intimidados, roubou todos os pertences deles.
Como
é que se poderia prever o destino dessa pobre mulher, como se poderia imaginar
que ela curiosamente fosse morrer em cima da Ponte da Amizade?
Uma
viagem, um passeio, um tiro, a morte.
Decididamente,
ninguém pode mudar o seu destino, apesar de que Albert Einstein, o grande
gênio, tenha dito que não devemos estranhar que as coisas desfavoráveis nunca
mudem para nós, se nós não mudamos nossas atitudes.
Mudar
de atitude pode mudar muita coisa, portanto, mas não muda o destino.
Nós
viemos ao mundo cheios de pretensões de felicidade, agimos direito, tudo
fazemos para construir uma vida feliz – e de repente trombamos com o destino.
Ou
seja, o destino detém sobre nós um poder superior e incontestável,
Eu
até não sei bem se nós não devemos nos conformar com o que o destino reservou
para nós. Ou seja, será verdadeira esta história de que nós podemos mudar o
nosso destino?
A
mulher de Passo Fundo Fundo que morreu na ponte certamente fez tudo para mudar
o seu destino – ou será que para cumprir com o seu destino? – foi para o
Paraguai fazer compras e acabou só fazendo a própria morte.
Por
causa do destino, nosso futuro é sempre incerto. Está bem, não sou adepto da
tese de que devemos nos atirar nas cordas, ficar de papo para o ar à espera do
destino.
Mas
é real que há muita chance de nos esforçarmos, estudarmos, trabalharmos,
organizarmos nossa vida e, de repente, o destino acaba nos tirando tudo que
amealhamos num golpe só do seu certeiro cutelo.
Eu
sei que o contrário é verdadeiro: deve haver muita gente que passou pela vida
sem nenhum esforço, tocando viola de papo pro ar, e de repente, é brindada pelo
destino com a Mega Sena ou com um casamento com a mulher ou o homem dos sonhos.
Eu,
por exemplo, quando meu pai me comunicou que eu deveria ser gremista, tinha eu
então apenas oito anos, já pressenti que viria encrenca por aí: suavizada
apenas por aquele dia em Tóquio em que, na pista do Estádio Nacional, De León
me passou às mãos a taça suprema conquistada minutos antes.
A
cigana leu o meu destino, eu chorei.
Quando
a cigana olhou fixamente para a palma da minha mão e me disse que eu teria
todas as mulheres que me quisessem mas nunca teria a mulher que eu amasse, eu
chorei.
É
fato que, quando porventura ficamos sabendo antecipadamente do nosso destino, é
certo que se vai chorar.
Até
mesmo porque o destino mais certo é a morte.
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