domingo, 12 de agosto de 2012


JOSUÉ GOMES DA SILVA

Humildade e preconceito

Foi lamentável a atitude do técnico da seleção de ginástica da China, Huang Yubin, após seu atleta Chen Yibing ser derrotado pelo brasileiro Arthur Zanetti -que ganhou, em Londres, inédita medalha de ouro nas argolas para o nosso país. A reação do treinador contra a decisão dos árbitros, classificando o episódio como "um dia negro na história da ginástica", desrespeitou todos os adversários e conspirou contra o ideal olímpico de congraçamento entre os povos.

O treinador asiático foi infeliz em tentar desvalorizar o feito do brasileiro, atribuindo-o a um erro de arbitragem. O mais grave é que Huang não se limitou a uma reação pontual no calor da emoção. Sua atitude preconceituosa permaneceu inalterada, quando depois, já calmo e sereno, escreveu um artigo em sua coluna no portal Sina.com.

Infelizmente, não se tratou de fato isolado nesta Olimpíada. A própria China havia sido vítima de atitude semelhante, quando a desconhecida Ye Shiwen, de 16 anos, ganhou duas medalhas de ouro nas piscinas. John Leonard, diretor-executivo da Associação de Técnicos de Natação dos EUA, questionou seu desempenho de modo preconceituoso, insinuando a possibilidade de doping. A mídia chinesa reagiu contundentemente.

Porém foi contraditória dias depois, ao acolher a ira de seu técnico de ginástica contra a conquista do ouro pelo nosso brasileiro. Dois pesos, duas medidas dos representantes de Pequim e atitudes inadequadas dos treinadores asiático e norte-americano. Nos esportes, como nos negócios e na vida, nunca é prudente fazer aos outros o que não queremos para nós.

Numa analogia com a economia global, a China e outros países aplaudem normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) quando lhes são favoráveis e criticam as mesmas resoluções quando ferem seus interesses. Ora, não se deve julgar tudo sob a perspectiva da mesquinhez. É preciso coerência e grandeza de espírito para não prejulgar.

O técnico de natação e o treinador de ginástica perderam imensa oportunidade de exercitar, na prática, a primorosa frase de um chinês que, há cerca de 2.500 anos, já sabia que presunção e incontinência verbal são algozes da justiça: "O silêncio é um amigo que nunca trai", repetiria Confúcio diante desses episódios de Londres.

A humildade preconizada pelo grande sábio, num contraponto ao preconceito, também brilhou nesta edição dos Jogos Olímpicos, nas medalhas conquistadas por nossos atletas. Que seu exemplo inspire o Brasil, de modo que possamos, como os britânicos estão fazendo, ter participação expressiva na Olimpíada quando estivermos competindo em casa, em 2016, sob os braços do Cristo Redentor.

JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.

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