sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Jaime Cimenti

A linha tênue entre a maldade e a ingenuidade

O romance Perseguição, do professor Alessandro Piperno, que leciona literatura francesa na Universidade Tor Vergata, ganhou o prêmio de melhor livro estrangeiro na França em 2011 e marca a estreia do autor italiano no Brasil. Perseguição é o primeiro capítulo, totalmente concluído e autônomo, de um díptico intitulado O fogo amigo das lembranças, cujo segundo volume sairá pela Bertrand Brasil ainda em 2012.

 Perseguição traz como protagonista Leo Pontecorvo, um oncologista pediátrico de fama internacional, acusado de um crime. Em julho de 1986, num palacete imerso no verde, às portas de Roma, Leo, 48 anos, sua esposa e médica, Rachel, mais Filippo e Samuel, filhos, no início da adolescência, estão reunidos no jantar, assistindo TV.

A notícia do telejornal vai mudar para sempre a vida da família Pontecorvo. Leo é acusado de um crime repugnante e tal fato projeta sobre si a sombra de um poderosíssimo refletor, que revela lacunas, passos em falso, hipocrisias ou a simples indolência que lhe é característica no decorrer de sua existência.

A atividade do médico-chefe, a retidão do professor, os detalhes de suas vidas íntima e social, tudo está prestes a ser posto em xeque pelos inimigos e amigos de outrora, por jornalistas vorazes e magistrados detalhistas, assistentes espertalhões e advogados astutos, prisioneiros cruéis e carcereiros brutais.

Da noite para o dia, o professor Pontecorvo se vê transformado em objeto de censura pública: vítima de ódio, intriga, delação, calúnia e intimidação. Leo até poderia suportar tudo, mas o silêncio da mulher e dos filhos o aniquila. Serão eles os primeiros a não acreditar em sua inocência? 

O narcisismo e a fragilidade infantis do protagonista são narrados por Piperno com olhar feroz, com agudez psicológica, mas sempre com compromentimento emocional. Os mecanismos de nossas mentes são apresentados, junto com as distorções das lentes da mídia e a urgência coletiva por bodes expiatórios. Enfim, a narrativa mostra o drama atemporal da justiça humana e de seus inevitáveis erros. Certamente os leitores vão se perguntar, entre outras coisas: será que vivemos sempre à mercê do inconsciente?

Piperno observa bem nossa sociedade, seus paradoxos e ambiguidades e, com justiça, tem sido apontado como uma das vozes importantes da nova literatura italiana. Bertrand Brasil, 432 páginas, R$ 39,00, tradução de Joana Angélica d´Avila Melo.

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