Jaime
Cimenti
A linha tênue entre a maldade e a
ingenuidade
O
romance Perseguição, do professor Alessandro Piperno, que leciona literatura
francesa na Universidade Tor Vergata, ganhou o prêmio de melhor livro
estrangeiro na França em 2011 e marca a estreia do autor italiano no Brasil. Perseguição
é o primeiro capítulo, totalmente concluído e autônomo, de um díptico
intitulado O fogo amigo das lembranças, cujo segundo volume sairá pela Bertrand
Brasil ainda em 2012.
Perseguição traz como protagonista Leo
Pontecorvo, um oncologista pediátrico de fama internacional, acusado de um
crime. Em julho de 1986, num palacete imerso no verde, às portas de Roma, Leo, 48
anos, sua esposa e médica, Rachel, mais Filippo e Samuel, filhos, no início da
adolescência, estão reunidos no jantar, assistindo TV.
A
notícia do telejornal vai mudar para sempre a vida da família Pontecorvo. Leo é
acusado de um crime repugnante e tal fato projeta sobre si a sombra de um
poderosíssimo refletor, que revela lacunas, passos em falso, hipocrisias ou a
simples indolência que lhe é característica no decorrer de sua existência.
A
atividade do médico-chefe, a retidão do professor, os detalhes de suas vidas íntima
e social, tudo está prestes a ser posto em xeque pelos inimigos e amigos de
outrora, por jornalistas vorazes e magistrados detalhistas, assistentes
espertalhões e advogados astutos, prisioneiros cruéis e carcereiros brutais.
Da
noite para o dia, o professor Pontecorvo se vê transformado em objeto de
censura pública: vítima de ódio, intriga, delação, calúnia e intimidação. Leo
até poderia suportar tudo, mas o silêncio da mulher e dos filhos o aniquila. Serão
eles os primeiros a não acreditar em sua inocência?
O
narcisismo e a fragilidade infantis do protagonista são narrados por Piperno
com olhar feroz, com agudez psicológica, mas sempre com compromentimento
emocional. Os mecanismos de nossas mentes são apresentados, junto com as distorções
das lentes da mídia e a urgência coletiva por bodes expiatórios. Enfim, a
narrativa mostra o drama atemporal da justiça humana e de seus inevitáveis
erros. Certamente os leitores vão se perguntar, entre outras coisas: será que
vivemos sempre à mercê do inconsciente?
Piperno
observa bem nossa sociedade, seus paradoxos e ambiguidades e, com justiça, tem
sido apontado como uma das vozes importantes da nova literatura italiana. Bertrand
Brasil, 432 páginas, R$ 39,00, tradução de Joana Angélica d´Avila Melo.
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