sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Jaime Cimenti

Dia dos Pais

Qual é o papel do pai? A certidão de nascimento, o doc do colégio e depois o da faculdade, o recibo de condomínio, as contas da luz, do gás e do super? As cartas, os e-mails, as palavras e os “papéis” de protetor, mantenedor e “autoridade” no teatro-vivo-real da família?

Hoje, estes papéis estão mesclados com os das mães feministas e pós-feministas. Mas papel de pai é mais do que isso tudo. É coisa sem limite de tempo e espaço. Meu pai se foi, de repente, guri, aos 67 anos, de uma hora para outra, numa segunda. Faz vinte e cinco anos. Lembro dele quase todo dia. Deixou o carro na frente do edifício, ao meio-dia. Esperava sair para trabalhar. Ele trabalhou por mais de 50 anos. O automóvel ficou lá, esperando.

Dois dias antes, sábado de tarde, eu tinha ficado horas falando com ele. Italiano, de pequena classe média, com 14 anos teve de começar a trabalhar na fábrica da Alfa-Romeo, em Milão, como auxiliar de mecânico. Tinha oito irmãos.

Participou da Segunda Guerra. Veio para o Brasil, de navio, aos 29 anos, com minha mãe de 21 e meu irmão de cinco meses. Trabalhou, ganhou, às vezes perdeu, e lá pelos 50 anos comprou um automóvel JK usado, depois um Alfa-Romeo novo, lembrando seus tempos de operário.

Certo dia um operário de sua firma disse estar com frio. Meu pai deu-lhe o próprio casaco. Meu pai me disse que tudo o que é exagerado é errado; que, às vezes, é melhor ser dono do barquinho que empregado do transatlântico; que o corretor está de olho na comissão; que a única coisa que a gente sabe é que a gente não sabe de nada (socrático); que é melhor não pedir dinheiro emprestado, especialmente para banco; que a família é o mais importante; que nós somos o nosso melhor médico; que nem sempre a sopa do vizinho é mais quente e seu gramado mais verde que o nosso.

Meu pai me disse que o mais importante era o amor. Meu pai fez o papel dele, com palavras simples, sabedoria, solidariedade e, acima de tudo, com seus atos e sua maneira de ser. O exemplo é o maior legado, o maior papel.

Os filhos lembram mais a maneira de ser e dos atos do pai do que de outros detalhes. Feliz dia dos pais biológicos, dos padrastos, dos pais adotivos e de todos que exercem funções paternais, nessa época em que pai se tornou pessoa e personagem bem mais complexo, solicitado e ocupado. Papel de pai agora tem mais cores, detalhes e importância.

Os pais têm de educar e cuidar bem dos filhos, para que eles possam se tornar bons pais. É por aí, eternidade afora, desde a Babilônia.

Jaime Cimenti

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