Jaime Cimenti
Dia
dos Pais
Qual é o papel do pai? A certidão de nascimento, o doc do
colégio e depois o da faculdade, o recibo de condomínio, as contas da luz, do gás
e do super? As cartas, os e-mails, as palavras e os “papéis” de protetor,
mantenedor e “autoridade” no teatro-vivo-real da família?
Hoje, estes papéis estão mesclados com os das mães
feministas e pós-feministas. Mas papel de pai é mais do que isso tudo. É coisa
sem limite de tempo e espaço. Meu pai se foi, de repente, guri, aos 67 anos, de
uma hora para outra, numa segunda. Faz vinte e cinco anos. Lembro dele quase
todo dia. Deixou o carro na frente do edifício, ao meio-dia. Esperava sair para
trabalhar. Ele trabalhou por mais de 50 anos. O automóvel ficou lá, esperando.
Dois dias antes, sábado de tarde, eu tinha ficado horas
falando com ele. Italiano, de pequena classe média, com 14 anos teve de começar
a trabalhar na fábrica da Alfa-Romeo, em Milão, como auxiliar de mecânico. Tinha
oito irmãos.
Participou da Segunda Guerra. Veio para o Brasil, de navio,
aos 29 anos, com minha mãe de 21 e meu irmão de cinco meses. Trabalhou, ganhou,
às vezes perdeu, e lá pelos 50 anos comprou um automóvel JK usado, depois um
Alfa-Romeo novo, lembrando seus tempos de operário.
Certo dia um operário de sua firma disse estar com frio. Meu
pai deu-lhe o próprio casaco. Meu pai me disse que tudo o que é exagerado é errado;
que, às vezes, é melhor ser dono do barquinho que empregado do transatlântico;
que o corretor está de olho na comissão; que a única coisa que a gente sabe é que
a gente não sabe de nada (socrático); que é melhor não pedir dinheiro
emprestado, especialmente para banco; que a família é o mais importante; que nós
somos o nosso melhor médico; que nem sempre a sopa do vizinho é mais quente e
seu gramado mais verde que o nosso.
Meu pai me disse que o mais importante era o amor. Meu pai
fez o papel dele, com palavras simples, sabedoria, solidariedade e, acima de
tudo, com seus atos e sua maneira de ser. O exemplo é o maior legado, o maior
papel.
Os filhos lembram mais a maneira de ser e dos atos do pai do
que de outros detalhes. Feliz dia dos pais biológicos, dos padrastos, dos pais
adotivos e de todos que exercem funções paternais, nessa época em que pai se
tornou pessoa e personagem bem mais complexo, solicitado e ocupado. Papel de
pai agora tem mais cores, detalhes e importância.
Os pais têm de educar e cuidar bem dos filhos, para que eles
possam se tornar bons pais. É por aí, eternidade afora, desde a Babilônia.
Jaime Cimenti
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