sábado, 11 de agosto de 2012



11 de agosto de 2012 | N° 17158
PAULO SANT’ANA

Utilidades da bengala

Ontem, encontrei aqui na Redação a candidata a prefeito Manuela D’Ávila.

Ela é muito simpática. Perguntei-lhe se ganhará a eleição. Ela não teve dúvida em me afirmar que ganhará de rebenque erguido. Indaguei então por que acha que ganhará.

E ela respondeu que ganhará porque está “caminhando” muito.

Eu disse a ela que o páreo será muito duro, porque a cidade está muito bem organizada pelo Fortunati.

E disse a ela também que, por Fortunati estar tendo bom desempenho, a trama psicológica da eleição se dará ao redor de um ponto central: o eleitor arriscará votar em Manuela, que é uma novidade, ou se sentirá mais seguro em reeleger o prefeito? Isso é que decidirá a eleição.

Ontem, eu estava imerso em meus devaneios, enquanto comia churrasquinho de gato.

Comi um espetinho de frango, o segundo de picanha e mais tarde, como me sobrou apetite, ainda devorei um de queijo.

Voltando aos meus devaneios, estava fazendo um balanço da minha vida. Tentei calcular quantas vezes fui traído e quantas vezes traí.

Também avaliei se muitas vezes faltei contra a confiança de alguém e quantas vezes faltaram os outros contra minha confiança.

Entre os meus devaneios, inclui-se obviamente uma questão que me interessa muito: se invejei muita gente e se alguém me invejou.

Uma das coisas que menos tolero em mim é quando, não raro, invejo alguém (como se ainda houvesse em meu redor pessoas que eu pudesse, na minha megalomania, invejar!).

Mas invejo e por isso não me perdoo.

Em compensação, sinto-me invejado. Nesse ponto, só acho que me revolta quando alguém me inveja com agressividade.

Há objetos que muitas vezes em nossas vidas têm maior valor que determinadas pessoas.

Atualmente, em minha vida, ninguém tem mais utilidade que minha bengala.

Minha bengala tem haste de taquara envernizada e empunhadura de prata. Ela me acompanha em quase todos os meus movimentos. E é ela que me impede os movimentos falsos que poderiam me levar à queda.

Está comprovado que os idosos sofrem muito mais quedas que os mais moços.

Uma das quedas preferidas pelos idosos é a queda no banheiro. Esses dias, um grande amigo meu teve queda no banheiro e fraturou a clavícula, o epicôndilo (cotovelo) e o osso rádio.

Pois a minha bengala me protege das quedas e ainda me serve de adereço elegante. Bengala e cachimbo são muito valiosos na aparência externa dos seus portadores.

Eu já me sinto inseparável da minha bengala. Pela manhã, antes da minha batida de abacate e da escova de dentes, cogito de onde está minha bengala.

Só me sinto seguro com minha bengala, tanto quando caminho quanto quando estou no Sala de Redação, onde, no auge das discussões, nenhum dos outros debatedores terá a coragem de me agredir, pelo risco de levar uma bengalada na testa.

A respeito, a única marcha de Carnaval que o grande Lupicínio Rodrigues compôs dizia assim:

Ai, quando eu for bem velhinho,

Bem velhinho e usar um bastão

Eu hei de ter netinho

Pra carregar pela mão.

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