10 de agosto de 2012 | N° 17157
PAULO SANT’ANA
Tratamento de canal
Estava eu ontem à tarde sendo submetido a um tratamento de
canal na minha dentista.
Enquanto, com tensão, pela possibilidade quase certa da dor,
o canal de meu dente ia sendo prospectado, eu pensava no julgamento do
mensalão, que já tem vários dias no Supremo.
Pensava eu: o julgamento do mensalão é exatamente como um
tratamento de canal.
Tem dor, tem nervosismo, o caudal de infecções morais da
nação está sendo tratado. Desculpem a comparação escatológica.
Eu não estou entendendo direito essa greve dos policiais
rodoviários federais.
Eles anteontem paralisaram várias estradas federais, com
todos os atos de sabotagem que outras categorias usam nas estradas para barrar
ou retardar o trânsito.
Pergunto: com que moral doravante os policiais rodoviários
vão administrar nas estradas os protestos de outras classe sociais? Com que
moral, se eles próprios já apatifaram com a ordem nas estradas?
Há um ano que sinto tontura incapacitante, desde a hora em
que me acordo pela manhã até a noite, quando vou dormir.
Destacados médicos otorrinos e neurologistas se debruçaram
já com afinco sobre minha tontura, que me tirou a alegria de viver.
Um desses médicos me deixou perplexo na semana passada,
quando afirmou que minha tontura não provém de meus labirintos, isso que todos
os cuidados médicos até agora tinham sido dirigidos exatamente para meus dois
labirintos.
Sei lá então de onde vem esta tontura, esta vaguidão. Eu me
sinto permanentemente como se estivesse bêbado, sem no entanto ter ingerido
sequer uma gota de álcool.
Todas as investigações não me tiraram até agora a tontura.
E já começa a me apavorar a ideia de que esta tontura venha
a ser incurável.
O interessante é que a tontura danificou todas as partes do
meu corpo, mas não me atingiu o cérebro. E, se me atingiu o cérebro,
milagrosamente, pelas colunas que escrevi nos últimos anos, foi para
aperfeiçoá-lo.
Encontrei esses dias o treinador Vanderlei Luxemburgo,
acompanhado de sua simpática esposa, numa churrascaria.
Dá gosto conversar com ele. É um homem inteligente e
demonstra na conversa ser um especialista no tratamento psicológico sobre o
vestiário.
Ele me disse que encara as críticas com naturalidade. Ainda
bem, eis que sou crítico e já o critiquei.
Luxemburgo é craque também nas entrevistas coletivas a que
se submete depois dos jogos.
Por sinal, eu queria declarar que está completamente errada
a crônica esportiva ao destacar somente repórteres para essas entrevistas
coletivas com treinadores após as partidas: tinha também de destacar
comentaristas de jornadas e colunistas de jornal.
Aí é que seriam aquecidos e enriquecidos os debates.
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