10 de agosto de 2012 | N° 17157
DAVID COIMBRA
Os
bons colonizadores
Os Estados Unidos, de tantas medalhas na Olimpíada inglesa,
foram feitos pelos ingleses. O Brasil, de ouro escasso e pranto abundante,
pelos portugueses.
Há quem acredite que essa condição definiu o nosso destino,
e o deles. Eles deram certo. Nós, não. O Brasil nunca fica pronto. Tudo por
causa da matriz. Os ingleses seriam melhores colonizadores do que os
portugueses.
Trata-se de uma injustiça atroz contra os portugueses.
Porque os ingleses colonizaram também a Índia, chamada por eles, no século 19,
de “a mais valiosa joia da coroa”. E a Índia não está melhor do que o Brasil.
Ao contrário, está pior.
Como explicar resultados diferentes, se o colonizador foi o
mesmo?
A diferença está na forma como as colônias foram exploradas.
Os ingleses que colonizaram os Estados Unidos foram para lá com a intenção de
ficar. Saíram da Ilha com mulher e filhos, e estabeleceram-se na América, e
fundaram uma nação deles.
Para garantir que fosse deles mesmo, tiveram de se livrar de
certos inconvenientes, como alguns milhares de índios. “Índio bom é índio
morto”, pregou o general Sheridan, e os colonizadores se puseram a trabalhar
com afinco na realização desta máxima.
Na Índia, não. Na Índia, os ingleses conviveram com os
indianos. Eram os chefes, mandavam no país, mas não tinham interesse em
eliminar os nativos. Simplesmente por que os ingleses NÃO QUERIAM viver na
Índia.
Queriam apenas ir lá, trabalhar algum tempo como altos
funcionários públicos, tirar o que pudessem das riquezas locais e logo retornar
para a Velha Álbion para fumar seus charutos e tomar seu chá. A forma como
poucos milhares de militares e burocratas ingleses dominaram milhões de
indianos espalhados por um país continental é uma façanha da organização
britânica.
No Brasil aconteceu praticamente o mesmo. Os portugueses que
foram para o Brasil não levaram mulher e filhos. Nada disso. Atravessaram o Mar
Tenebroso sozinhos, sonhando em pegar e voltar. Muitos pegavam, mas acabavam
não voltando. Amasiavam-se com as índias e, mais tarde, com as negras trazidas
a ferros da África.
Os que se mudaram de fato para o Brasil, dispostos a fazer
nova vida e novo país, foram os alemães e italianos que desbravaram o Sul e o
Sudeste, e depois japoneses, poloneses, judeus, árabes.
Essa é a diferença. Quem chega para se estabelecer, adota o
lugar aonde chegou. Toma o lugar. É o lugar dele. Um pedaço dele.
O Brasil leva tanto tempo para ser construído porque você
não constrói nada chegando com a ideia de ir embora. Você só constrói quando
chega para ficar.
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