06
de fevereiro de 2013 | N° 17335
PAULO
SANT’ANA
Quarentena
Fiquei
sabendo por Zero Hora que havia em Santa Maria pelo menos uma empresa privada
de segurança contra incêndio cujo proprietário é integrante do Corpo de
Bombeiros.
E a
reportagem também disse que os proprietários de casas noturnas em Santa Maria,
quando eram fiscalizados, eram aconselhados pela fiscalização a procurar essa
empresa para regularizarem suas lacunas.
É corriqueiro
há muitos anos que oficiais da Brigada Militar que serviram no Corpo de
Bombeiros se tornem proprietários de empresas privadas especializadas em
segurança contra incêndios, imediatamente após serem transferidos para a
reserva, isto é, aposentarem-se.
Não
há nada de ilegal nisso, nem mesmo de antiético. Assim como um juiz ou
desembargador que se aposente passe no dia seguinte a advogar. Tudo limpo. Há delegados
de polícia que, logo após se aposentarem, montam empresas de segurança que
empregam vigilantes.
O
que não pode – e isso, sim, é antiético e lamentável – é que oficiais ou
subalternos da ativa do Corpo de Bombeiros instalem essas empresas privadas. É antiético
porque isso dá lugar a que as casas de diversões que são fiscalizadas contratem
a assessoria dessas empresas para serem facilitadas na fiscalização.
Portanto
se, no caso de Santa Maria, a empresa de segurança contra incêndio for de
propriedade de bombeiro na ativa, verifica-se, então, grave irregularidade. Se,
no entanto, o dono é bombeiro da reserva, aposentado, nada há de anormal nisso.
Pois
é natural que funcionários públicos que tenham adquirido especialização no
serviço público, quando se aposentam, vão usar sua especialização em interesse
privado.
Isso
é um direito legítimo. Mas quando o servidor é da ativa, isso é um saque. Como
era de se prever após a tragédia de Santa Maria, houve uma corrida em busca de
culpados.
Tem
gente que culpa o prefeito, outros culpam os bombeiros ou os proprietários da
boate etc.
No
entanto, há um fato difícil de acreditar: um dos sócios da boate atribuiu
grande parcela de culpa pelas centenas de mortes às próprias vítimas da tragédia,
alegando que elas se atrapalharam a si próprias ao tentar fugir da fumaça e das
chamas, causando tumulto e assim provocando suas mortes.
É demais:
gente culpando as vítimas! Nem seria de acreditar, se não fosse evidente.
Depois
de qualquer tragédia provocada pela omissão humana, instala-se naturalmente uma
caça às bruxas, que tem uma escalada tão natural e espontânea, que chega ao cúmulo
de acusar os que morreram no sinistro.
É demais.
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