03
de fevereiro de 2013 | N° 17332QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar
Vale a pena ver de
novo?
“Querido
Fabrício! Amor tem reprise? Vale a pena ver de novo? Estou apaixonada pelo ex.
Depois de três anos longe e muitos relacionamentos de ambos, nos reencontramos
há dois meses numa festa. O beijo foi da primeira vez, uma loucura! Porque não
tivemos recaídas antes, jamais tínhamos ficado. Agora a paixão veio com tudo,
acrescidas das neuras que fizeram o término da união. O que fazer? Beijo
Catherine”
Querida
Catherine,
Há
uma morte separando vocês. Uma morte emocional. Por isso você o chamou de
fantasma. Para uma relação funcionar pela segunda vez, é necessário absorver o
que falhou na primeira vez.
Uma
possível reaproximação reeditará as brigas e os ressentimentos. É voltar a ficar
junto que os vícios da relação retornam com o dobro de força. O ciúme de antes
crescerá em possessividade. A preguiça de antes resultará em marasmo. A
distância agrava os defeitos, como se ambos houvessem traído o romance neste
intervalo todo. Não menospreze as represálias dos órfãos amorosos.
Temos
uma profunda dificuldade para perdoar divórcios e abandonos. Não procuramos o
amor, mas a perfeição.
Não
entendemos que um deslize não abole aquilo que foi bom no passado. Não é porque
a pessoa errou num momento que errou sempre. Não é porque mentiu de repente que
mentirá sempre.
Somos
justiceiros mais do que compreensivos. A gente não perdoa para se mostrar
superior. Você acha que o credor quer que o endividado pague sua pendência?
Não, ele deseja humilhá-lo. Deseja torturá-lo. É seu canal de catarse.
O
único modo de dar certo seu amor pelo ex é destruir a intimidade anterior,
quebrar os modelos, os moldes. Jamais dizer “eu te conheço”. Não conhece mais,
não. Depois de uma separação, todos se transformam. Uns ficam mais amargos,
outros mais humildes. Os dois passaram por namoros, adquiriram hábitos
diferentes, amadureceram a sexualidade, cicatrizaram lembranças.
Deve
começar a relação do zero. O que é quase impossível, a situação pede uma
paciência de desconhecidos. Do zero mesmo. Sem cobrança. Sem fiadores. Retomar
pelas perguntas mais triviais: o que ele assiste, vê, lê, faz. Não reprisar
filmes e rever fotografias dos tempos felizes. Não repetir viagens e lugares
prediletos. Não reutilizar os apelidos mimosos e os beiços.
Esquece
que você sabe o que ele gosta. Não compara, não cruza informações. O pior que
pode acontecer é testá-lo: para ver se ele mudou ou continua igual. Estará daí
analisando, jamais experimentando.
Existe
um grande risco de trai-lo com ele de três anos atrás. Raciocine que é um novo
beijo, um novo livro. E com novos autores também.
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