sábado, 2 de fevereiro de 2013



03 de fevereiro de 2013 | N° 17332
VERISSIMO

Igualzinha, igualzinha

Uma imitação perfeita só deixa de ter o mesmo valor do original quando é descoberta

Margô voltou de Paris com uma bolsa Vuitton. Contou para as amigas o que passara para comprar sua bolsa Vuitton. Entrara numa fila enorme em frente à loja Vuitton do Champs- Élysées. No frio! Chegara a brigar com uma japonesa (ou chinesa, sei lá) que tentara cortar a sua frente na entrada da loja. Lá dentro, custara a ser atendida. Uma multidão. Mas finalmente conseguira.

– E aqui está ela – disse Margô, mostrando a bolsa Vuitton como um troféu.

Foi quando aconteceu uma coisa que a Margô jamais esperaria. A Belinha mostrou a sua bolsa e disse:

– Igual à minha.

Houve um silêncio constrangido. Depois que se recuperou da surpresa, Margô sorriu e perguntou:

– Você também esteve em Paris, querida?

– Estive

– Que inferno a fila da Vuitton, né?

– Eu não comprei a bolsa na loja da Vuitton.

– Ah, não? Não foi no Champs-Élisées?

– Foi, mas na outra calçada.

– Como?

– Estavam vendendo na rua. Por 19 euros.

O sorriso da Margô desapareceu. Sua bolsa Vuitton custara exatamente 1.900 euros, na loja. – Ah. Imitação – disse. – Mas é igualzinha.

– Igualzinha, igualzinha, não – corrigiu Margô. – A minha é legitima. A sua é falsa.

Belinha então propôs que todos examinassem as duas bolsas, para descobrir se havia alguma diferença. Não encontraram nenhuma.

À noite, na cama com seu marido Oscar, Margô ainda estava furiosa.

– Cachorra!

– O quê, bem?

– A Belinha. Não precisava ter esfregado a bolsa de 19 euros na minha cara.

– Mas ela foi honesta. Poderia dizer que comprara a bolsa na loja, igual a você. Poderia ter mentido.

– Você não vê? Ela me chamou de otária. De nova-rica deslumbrada. De, de...

– Calma. Sabe que essa é uma questão filosófica? – disse Oscar. – Uma imitação perfeita só deixa de ter o mesmo valor do original quando é descoberta. Dizem que várias obras atribuídas ao Rembrandt não são dele, são de um falsificador. Mas continuam nos museus, encantando todo o mundo. Por que estragar o prazer de ver ou ter um Rembrandt, por um detalhe?

– Oscar, você não está me ajudando.

Hoje, quando alguém comenta a bolsa da Margô e pergunta se é Vuitton, ela responde.

– Parece, não é? Mas comprei numa calçada do Champs-Élysées. Por 19 euros!

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