03
de agosto de 2012 | N° 17150
DAVID
COIMBRA
As poderosas mulheres da
Inglaterra
A
Inglaterra é um país de valores masculinos. Um país que lutou, e venceu, todas
as guerras, um país de cavaleiros galantes e de clubes exclusivos para
gentlemen, um país de bebedores de cerveja e de amantes do futebol.
Mas
não lembro de nenhuma outra nação que tenha forjado tantas mulheres fortes, que
amealharam tanto poder e que tiveram tanta influência na história do mundo.
A
rainha Elizabeth II é uma dessas personalidades internacionais, com seu reinado
sexagenário e sua presença solene a inspirar os britânicos. Mas ela fez pouco
perto de outras.
Imagine
Ana Bolena, que foi rainha no selvagem século 16. Para poder casar-se com ela e
divorciar-se da primeira mulher, o rei Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica
e criou a Igreja Anglicana. Verdade que Ana Bolena, depois de casada, caiu em
desgraça.
Devia
ser chata. Para livrar-se dela, Henrique acusou-a de traição e mandou decapitá-la.
Mas até o fim Ana foi majestosa. Mandou buscar um carrasco da França, conhecido
como o melhor cortador de cabeças da Europa, porque, ao contrário dos ingleses,
usava a espada, não o machado. Na hora da execução, Ana expôs o pescoço e disse
para o verdugo:
– É pequeno,
muito pequeno, não é verdade?
A
fim de distraí-la, o carrasco gritou:
– Onde
está a minha espada?
Ana
olhou para o lado e ele a decepou de um único e golpe – profissionalismo. O
fantasma de Ana ainda ronda à noite pela Torre de Londres, onde foi presa, e
assusta os transeuntes carregando a própria cabeça debaixo do braço.
Mas,
se Ana Bolena foi forte, o que se dirá da filha dela, Elizabeth I, a Rainha
Virgem, que venceu a Invencível Armada espanhola, que lançou os piratas aos
sete mares, que arrancou os Estados Unidos dos espanhóis e que começou a
construção do Império Britânico, onde o sol nunca se punha?
E a
rival de Elizabeth, sua prima Maria Stuart? Li, há muitos anos, a biografia que
Stefan Zweig escreveu sobre ela. Maria Stuart era a rainha dos escoceses. Cobiçava
ter a cabeça coroada como rainha dos ingleses e, por isso mesmo, acabou sem a
coroa da Escócia, sem a coroa da Inglaterra e sem cabeça para nela colocar
qualquer outra coroa.
Tenho
a impressão de que Zweig se apaixonou por Maria em meio ao trabalho. A rainha
era leviana a ponto de mandar assassinar o próprio marido e, depois, casar-se com
o assassino, mas Zweig a via com certo romantismo inocente. Por quê? Porque,
mesmo depois de 500 anos, o poder de Maria Stuart o enfeitiçou.
E
ainda houve a Bloody Mary, que matou protestantes e deu nome a um drinque; e a
rainha Victoria, que alargou o império e deu nome a um século. E Margaret
Thatcher, a Dama de Ferro; e Lady Diana, a princesa do povo; e, claro,
Elizabeth Hurley. Como a Ilha produz essas mulheres notáveis, sendo tão
masculina?
Exatamente
por esse motivo. Num lugar feito para o desfrute dos homens, as mulheres têm de
se endurecer para mostrar o seu valor. Uma saudável reação evolucionária. Que,
parece, começa a se dar também no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário