sábado, 7 de abril de 2012



07 de abril de 2012 | N° 17032
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A Semana Mais Curta do Ano

Asemana mais curta do ano é a Semana Santa, que só tem quatro dias: Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia e Domingo de Páscoa.

A Bíblia diz que Cristo morreu crucificado e ressuscitou três dias depois, ou seja, no Domingo de Páscoa. Nunca entendi por que o Sábado é de Aleluia, se nesse dia Ele estava sepultado. Aleluia quer dizer alegria, graças a Deus. Deveria ser, como Ele estava sepultado, Sábado da Tristeza. A alegria mesmo foi no Domingo de Páscoa, quando Ele ressuscitou.

Cada um dos quatro dias da Semana Santa, no folclore gaúcho, tem as suas prescrições (aquilo que deve ser feito) e as suas proscrições (aquilo que é proibido). Na Quinta-Feira Santa, não se deve abusar da comida, não se deve ingerir bebidas alcoólicas nem fazer estardalhaço com músicas e gritos.

Deve-se buscar contrição e respeito, preparando o corpo e o espírito para a grande tristeza da Sexta-Feira da Paixão. Aí, as proscrições recomendam o jejum completo até a meia-noite. Nem banho se deve tomar.

O homem não deve fazer a barba ou cortar o cabelo. Sexo, então, nem falar! Muita gente grunhe de fome mas não ingere qualquer tipo de alimento e apenas deve beber água pura até a meia-noite.

O silêncio respeitoso só pode ser quebrado com o som da matraca, costume ainda hoje muito observado na região de Soledade e Caçapava do Sul, na Recomenda das Almas. A alegria começa, mesmo, à zero hora do Sábado de Aleluia, que marca o fim da Quaresma.

No Sábado de Aleluia vale tudo. O bochincho já começa quando a gurizada se acorda abaixo de sapatada e briga de travesseiros. Todo mundo quer “tirar as aleluias” em cima dos outros. Tem pais que reservam esse dia para castigar as faltas acumuladas dos filhos travessos.

E é tradicional o Baile de Aleluia em muitas sociedades, baile que vai terminar, é claro, no Domingo da Páscoa. Nesse dia é tradicional um grande almoço reunindo o maior número possível de parentes e amigos em torno da mesa comum.

A minha alegria numa dessas Semanas Santas está obscurecida para sempre pela perda de um amigo muito querido. A morte me tirou as aleluias alguns anos atrás, quando Wilson Villaverde, homem que criou as botas e as alpargatas “feitio do Alegrete”, nos deixou. O Nego Wilson era a alegria em pessoa. Não tinha inimigos e sim uma legião de amigos, sempre pronto para uma festa, onde gostava de cantar e batucar o ritmo.

Quando eu viajava para o Alegrete, no que passava de Rosário já telefonava: “Nego Wilson, prepara o churrasco e bota a cerveja na geladeira que eu estou chegando!”. Sempre a minha primeira visita na cidade era para ele. E não raramente um almoço emendava com o truco tarde afora e uma janta noite adentro, sobretudo quando estava o Bagre (casado com a Marlene, irmã do Wilson) e os seus, dele, sobrinhos: o Neto, o Ernesto e o Paulinho.

Grande e querido amigo! Na próxima vez em que eu voltar ao Alegrete, vou visitar o túmulo do meu amigo e levar uma garrafa de cerveja até lá – aberta, porque já terei tomado o primeiro trago em sua memória.

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