sábado, 14 de abril de 2012



15 de abril de 2012 | N° 17040
PAULO SANT’ANA



Fama fácil

Podem me acusar de tudo, mas não dou direito a ninguém de afirmar que busquei alguma vez a fama fácil ou os aplausos fúteis.

Acho também que nunca, na busca de ascensão, fabriquei cadáveres.

Esta coluna aqui é um exemplo correlato: muitas pessoas afirmam que sempre tive o cuidado de dar o direito de resposta a quem eu tivesse por qualquer forma agravado com meu texto.

Na última semana, o advogado Fábio Milman, que defende a dona da cadela pitbull morta pelo vigilante, quando coloquei à disposição dele a palavra para defender sua cliente, escusou-se tecnicamente de fazê-lo, mas me mandou um e-mail no qual dizia que é tradição minha dar voz à outra parte, pelo que restava profundamente agradecido.

Aprendi com o saudoso Cândido Norberto que não se deve nunca tripudiar sobre qualquer pessoa que tenha sido derrotada em qualquer embate ou tenha tido qualquer fracasso retumbante.

Aprendi na Unisinos e na PUC, onde estudei Direito, que não se pode, de forma alguma, acusar qualquer pessoa sem dar-lhe a faculdade de defender-se.

Aprendi na vida que o maior valor que existe sobre a face da Terra é a pobreza, daí que só pode ser estadista aquele homem cuja gestão foi voltada para os desfavorecidos e para as minorias.

Aprendi nas quebradas da vida que, sempre que eu tomar conhecimento de que alguém está em desvantagem em qualquer situação, tenho que me perfilar ao lado dele.

Como, excêntrica e absurdamente, só dou um exemplo, desde o tempo em que era cronista esportivo tão somente, defendi o direito dos presos gaúchos a tratamento digno e civilizado nos cárceres, só pode ser por isso que os Direitos Humanos, os Human Rights, me brindaram com o maior galardão que eles concedem, o prêmio pela luta insistente e muita vez ingrata em defesa exatamente dos direitos humanos em minha coluna.

Hoje, 40 anos depois do início de minha chata e às vezes repugnante campanha jornalística em favor dos presidiários, levanta-se na minha terra um clamor estrepitoso contra as condições desumanas e animalescas em que vivem os detentos no Presídio Central.

Quarenta anos atrás, eu não passava de um visionário.

Aprendi que nunca, em nenhuma situação, eu deveria ficar a favor ou contra determinada tese só porque tinha de acompanhar a opinião pública. Isso aprendi com a História: Jesus Cristo e Joana D’Arc foram assassinados na cruz e na fogueira porque assim o exigia na época a opinião pública.

E aprendi na última semana, com centenas de e-mails de pessoas que me amaldiçoaram com ofensas impublicáveis, por eu ter tratado na minha forma tradicional da questão dos pitbulls, que, por trás daqueles ataques infamantes que recebi de donos de pitbulls e pretensos defensores dos animais, havia centenas de milhares de leitores que me parabenizavam por eu ter denunciado esses cães ferozes em dezenas de colunas minhas, ou seja, a maior parte da opinião pública gaúcha é contra raças assassinas de cães. Aprendi na semana que passou.

Ou seja, ninguém resiste, em qualquer situação, à força da verdade.

A vida só tem razão quando alguém sente falta da gente.

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