Jaime
Cimetni
Roupa suja y otras cositas mas
Leio
no Jornal do Comércio de 23 de abril que o ministro Ayres Britto, presidente do
Supremo Tribunal Federal, convocou reunião interna para “lavar roupa suja” e
preparar a Corte aos julgamentos históricos deste ano, como o Mensalão e o que
contesta as cotas raciais das universidades.
Achei
ótima a ideia. As entrevistas de ministros e outras autoridades andam demais da
conta. Só penso que nem precisava divulgar a reunião interna corporis. Poderia
ser algo discreto, mineiro, sem anúncio prévio e sem ninguém falar nada depois.
Nem precisaria chegar ao ponto de acertar tudo antes da reunião.
Mas
aí seria mineiro demais, não é? No meu tempo de piá, no início da segunda
metade do século passado, quando o jovem Brizola bradava pela Legalidade e o
guri Pelé dava chapeuzinhos nos gringos e fazia golaços, fui ensinado que roupa
suja se lava em casa. Naqueles dias, aliás, a roupa era lavada, esfregada,
batida e aí ia para o varal. Ganhava anil e muitas vezes goma, antes de ser
passada.
Minha
mãe e a empregada, quando tinha, ficavam horas fazendo carinhos nas roupas com o
ferro. Elas ficavam com o “cheirinho de limpeza”. Na hora de ir ao médico, à missa,
a uma festa ou de visitar amigos na colônia, no interior de Bento, usava as
roupas, que não eram luxuosas, mas bem limpas. Hoje parte das pessoas lava
roupa suja e faz outras coisas, quase tudo, em público, especialmente pela
internet.
Muitos
jogam farinha à vontade no ventilador, a toda hora e em qualquer lugar. Esse
negócio de “transparência” muitas vezes o que faz é deixar transparecer a falta
de educação, o exibicionismo, a maldade, a vaidade e outras características dos
ditos humanos, demasiado humanos. Sinal dos tempos? Será que é mesmo inevitável
sair falando tudo, a toda hora, em todo lugar, sem pensar em si e no próximo?
Por
mim e pelos outros viventes, torço para que a roupa suja e outras sujidades
sejam lavadas, tanto quanto possível, em casa. Liberdade de imprensa, direito
de livre pensamento e manifestação, democracia, “transparência”, tudo bem, tudo
ótimo, mas será que não podemos ser mais discretos, educados e delicados?
Será
que seguimos adorando ver o circo pegando fogo? Será que a privacidade, o
respeito e a consideração foram para o espaço? Será que o silêncio deixou de
ser de ouro e as palavras, em vez de serem de prata, agora são de lata? Pois
foi um privilégio ter estado com vocês. Por favor, pensem nisso enquanto eu
lhes desejo um ótimo fim de semana e um excelente feriado de 1 de maio.
Jaime
Cimenti
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