sexta-feira, 27 de abril de 2012


Jaime Cimetni

Roupa suja y otras cositas mas

Leio no Jornal do Comércio de 23 de abril que o ministro Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal, convocou reunião interna para “lavar roupa suja” e preparar a Corte aos julgamentos históricos deste ano, como o Mensalão e o que contesta as cotas raciais das universidades.

Achei ótima a ideia. As entrevistas de ministros e outras autoridades andam demais da conta. Só penso que nem precisava divulgar a reunião interna corporis. Poderia ser algo discreto, mineiro, sem anúncio prévio e sem ninguém falar nada depois. Nem precisaria chegar ao ponto de acertar tudo antes da reunião.

Mas aí seria mineiro demais, não é? No meu tempo de piá, no início da segunda metade do século passado, quando o jovem Brizola bradava pela Legalidade e o guri Pelé dava chapeuzinhos nos gringos e fazia golaços, fui ensinado que roupa suja se lava em casa. Naqueles dias, aliás, a roupa era lavada, esfregada, batida e aí ia para o varal. Ganhava anil e muitas vezes goma, antes de ser passada.

Minha mãe e a empregada, quando tinha, ficavam horas fazendo carinhos nas roupas com o ferro. Elas ficavam com o “cheirinho de limpeza”. Na hora de ir ao médico, à missa, a uma festa ou de visitar amigos na colônia, no interior de Bento, usava as roupas, que não eram luxuosas, mas bem limpas. Hoje parte das pessoas lava roupa suja e faz outras coisas, quase tudo, em público, especialmente pela internet.

Muitos jogam farinha à vontade no ventilador, a toda hora e em qualquer lugar. Esse negócio de “transparência” muitas vezes o que faz é deixar transparecer a falta de educação, o exibicionismo, a maldade, a vaidade e outras características dos ditos humanos, demasiado humanos. Sinal dos tempos? Será que é mesmo inevitável sair falando tudo, a toda hora, em todo lugar, sem pensar em si e no próximo?

Por mim e pelos outros viventes, torço para que a roupa suja e outras sujidades sejam lavadas, tanto quanto possível, em casa. Liberdade de imprensa, direito de livre pensamento e manifestação, democracia, “transparência”, tudo bem, tudo ótimo, mas será que não podemos ser mais discretos, educados e delicados?

Será que seguimos adorando ver o circo pegando fogo? Será que a privacidade, o respeito e a consideração foram para o espaço? Será que o silêncio deixou de ser de ouro e as palavras, em vez de serem de prata, agora são de lata? Pois foi um privilégio ter estado com vocês. Por favor, pensem nisso enquanto eu lhes desejo um ótimo fim de semana e um excelente feriado de 1 de maio.
Jaime Cimenti

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