terça-feira, 17 de abril de 2012



17 de abril de 2012 | N° 17042
CLÁUDIO MORENO


Um mito imortal

Nos mitos da Grécia antiga, os amores entre deuses e mortais, embora muito frequentes, nunca duravam muito tempo – não por inconstância das partes, mas sim por um simples problema literário: como é impossível existir um relacionamento duradouro entre uma divindade atemporal e alguém que caminha para o fim inevitável, quase todos esses amores terminavam de maneira abrupta, não com a morte do parceiro humano, mas – e aqui brilha a paixão que os gregos tinham pela vida – com sua transformação em outro ser, o que, de certa forma, também o tornava imortal.

Vejam Hélio, o deus do Sol, que se apaixonou por Leucótoe, uma princesa da Pérsia. Lá de cima, conduzindo pelo firmamento os seus fogosos cavalos alados, o deus só tinha olhos para ela; enamorado, atrasava sua trajetória no céu de inverno, tornando os dias mais longos para ter mais tempo para contemplá-la.

Uma noite, quando a Lua, sua irmã, já brilhava serena, o Sol assumiu a aparência da rainha-mãe e assim entrou nos aposentos da princesa, que fiava e bordava na companhia das outras donzelas. “Deixem-nos a sós; quero falar com minha filha”, disse ela, dispensando-as.

Quando se viu sozinho com ela, o deus então se apresentou: “Eu sou quem mede a extensão dos anos; eu tudo vejo, e todos os homens veem por meu intermédio; eu sou o olho do mundo.

Eu te amo!”. Aturdida pela surpresa e pelo calor daquelas palavras, a jovem deixou cair o fuso com que fiava o linho; o deus, então, sem hesitar, assumiu sua verdadeira aparência, e Leucótoe, trêmula diante daquela visão esplendorosa, deslumbrada com tanta luz, acabou se entregando docilmente.

Uma irmã, porém, cheia de ciúme porque também amava Hélio, não hesitou em contar ao pai que a princesa já não era mais donzela. Impiedoso e brutal, o rei não quis ouvir a explicação da filha – ninguém resiste a um deus, dizia ela – e mandou sepultá-la, viva, numa profunda cova. Quando o deus soube disso, ainda tentou usar seus raios para libertar a pobrezinha, mas era tarde demais: Leucótoe, sufocada e esmagada, já era um corpo sem vida.

“Mesmo assim tu vais chegar aos céus”, jurou o Sol, desconsolado – e, impregnando com o néctar divino a terra que a cobria, fez nascer ali uma planta de folhas aromáticas: nascia assim o arbusto do incenso, e, a partir daquele dia, de todos os templos da Grécia, de todos os templos do mundo, a alma perfumada de Leucótoe subiria para se encontrar com seu amado, como ainda faz até hoje.

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