terça-feira, 24 de abril de 2012


Eliane Cantanhêde

"Volta Lula" ou "fica Dilma"

BRASÍLIA - O Datafolha brindou Dilma com duas excelentes notícias: sua popularidade bate recordes, mas o eleitor quer Lula em 2014.

O motivo de comemoração pela aprovação de 64% é óbvio: nunca antes na história do Datafolha um presidente chegou a tanto nessa mesma fase de governo.

Já a festa porque a maioria (57%) prefere Lula em 2014 a ela (32%) não tem nada de óbvia, mas talvez seja até mais importante: além de governar, de ser obrigada a demitir uma penca de ministros herdados e de ter de conviver com uma CPI, Dilma tem que administrar um dado político fundamental -o ego do padrinho.

A pesquisa ajuda a acalmar a ansiedade e a espantar os fantasmas de Lula, que, nas conversas com aliados, não para de reclamar da imprensa, da oposição e da "elite". Quanto mais Dilma acerta e cresce, mais ele alimenta a paranoia de que tentam "desconstruir a sua imagem".

Lula está absolutamente convencido de que foi o melhor presidente da história da humanidade, mas os adversários (entre os quais inclui a imprensa) não reconhecem. Insistem em dizer que o mensalão existiu, que ele impôs ministros que Dilma teve de defenestrar e que seu governo foi marcado por uma alegre convivência com fichas-sujas e oligarcas.

Ele não suporta ver a sua criatura se tornando mais admirada do que o criador. Sente-se injustiçado, senão perseguido, e reage com mágoa e rancor. Seu apoio à CPI é resultado desse sentimento: "doa a quem doer", ou seja, "doa ou não em Dilma".

O Datafolha é um bálsamo para as dores de Lula, que agora pode vangloriar-se pela escolha de Dilma como sucessora e continuar sentindo-se o "mais", o "melhor", o "mais amado", o "candidato dos sonhos".

Bálsamo para Lula, alívio para Dilma, que é cheia de dedos com Lula, ouvindo-o, reverenciando-o, mantendo-o no pedestal.

O resto é questão de tempo: até 2014, o "volta Lula" deve lentamente deslizar para o "fica Dilma".

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