sábado, 21 de abril de 2012



21 de abril de 2012 | N° 17046
PAULO SANT’ANA

Esportes diferentes

Assisti na terça-feira passada a um debate entre jornalistas no programa do canal 3 Observatório de Imprensa, apresentado por Alberto Dines.

Discutia-se esse novo propósito da TV Globo, de apresentar, depois de muita tentação, lutas de artes marciais mistas, jogos que foram incorporados, parece que definitivamente, à grade de programação da emissora.

Por sinal, quando esteve aqui na semana passada para autografar seu livro, almocei com o Boni, o célebre xerife da Rede Globo. E tive a audácia de dizer-lhe que, fosse ele ainda hoje o superintendente da Rede Globo, não permitiria dois programas: o BBB e essas lutas marciais.

Ele sorriu para mim enigmaticamente.

Voltando ao debate sobre as lutas livres, escutei de dois comentaristas que o futebol é tão violento quanto essas lutas marciais.

Nunca ouvi absurdo tão destacado.

No futebol, a violência é circunstancial, enquanto nessas lutas ferozes de que participam os litigantes a violência é o leitmotiv, isto é, o tema central, o objetivo central, só através dele pode o atleta chegar à vitória.

Enquanto no futebol pode se chegar à vitória sem nenhuma violência.

Esses lutadores marciais esmurram e exercitam outros golpes nos adversários com a finalidade de eliminá-lo ou de enfraquecê-lo fisicamente.

O objetivo central dos lutadores não é ver o sangue no corpo do adversário, mas não raro jorra sangue nos golpes violentos desferidos.

Já no futebol, a violência é casual, acontece, sim, mas teoricamente não é premeditada.

De vez em quando, eu olho essas lutas na televisão fechada. Acho que a Globo meditou muito antes de adotá-las como parte integrante de sua programação. Porque essas rinhas humanas podem inspirar as crianças e os adolescentes que assistem a elas à violência em seus atos cotidianos.

É bem verdade que no vôlei e no basquete podem aparecer menos violência – no vôlei nenhuma – do que no futebol. Porque no futebol a fricção entre os corpos dos adversários é uma constante, os pés e as pernas por vezes se tornam – as cabeças menos – armas de violência. Mas a violência não é a constante de uma partida de futebol.

Enquanto nas lutas marciais a violência não só tem permanência em todo o seu decorrer, como o público protesta quando os lutadores não estão usando a violência dentro dos ringues.

E, quanto mais violenta for a luta, melhor ela é. Enquanto, no futebol, quanto mais violência porventura houver, pior o espetáculo.

Absurda comparação. É bem verdade que há um fato que permite o exagero dessa comparação: é que há jogadores de futebol que restam inativos por meses ou até por mais de um ano quando sofrem lesões graves, enquanto não se tem notícia do mesmo com os lutadores marciais.

No entanto, a maioria dessas graves lesões físicas no futebol não se origina em violência, mas em acidentes do percurso.

Não sei se vai longe essa intenção da Globo em levar ao ar as lutas marciais. Porque essas lutas transmitidas em TV aberta vão dar muito pano para manga entre os pacifistas.

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