sexta-feira, 13 de abril de 2012


Barbara Gancia

Mercadante se estrumbica

O brasileiro tem problema de intelecção. Ele não se comunica. Como se pretende que o professor ensine?

Qualquer um que já tenha as­sistido às aulas de Harvard que estão à disposição na in­ternet terá tido um ciberorgasmo. Molecada lá se entretém com dis­cussões fascinantes. Muitas dessas aulas, aliás, estão disponíveis com legendas em português. Quando estou de bobeira, acesso uma aula no iPad em vez de ficar vendo fotos de pratos de comida que os amigos agora deram para postar no Face­book e no Instagram.

Aliás, onde têm a cabeça as pes­soas que tiram fotos do que estão comendo e colocam em rede so­cial? Eu por acaso abro a porta da geladeira para as visitas quando elas chegam na minha casa?

Nesta semana, a presidente Dilma foi falar aos alunos de Harvard em gesto simbólico, ou seja, mandou ali sua mensagem diante de poten­ciais presidentes dos EUA, bilioná­rios da comunicação, presidentes do Federal Reserve e de grandes corporações. Falou mirando nos olhos dos futuros líderes do mundo para tentar reverter o desastre que é a educação no nosso país. Há 9.000 tapuias em universidades dos EUA, ante 127 mil chineses e 100 mil in­dianos, nos informou o colunista Kenneth Maxwell, para nosso mais completo desalento.

A China forma, em casa, cerca de 600 mil engenheiros ao ano. Nós formamos 40 mil; entre eles estão os que construíram os prédios que desabaram no Rio ou fizeram as garagens de shop­pings em que ninguém consegue estacionar ou fazer manobra.

Mestre Elio Gaspari reclamou on­tem que o rico brasileiro ainda não se deu conta de sua responsabilida­de e não doa seu dinheiro para a educação. Talvez não o faça de for­ma graúda ainda. Mas não há fortu­na ou empresa tapuia que não te­nha os olhos voltados para a educa­ção nos dias de hoje. Simplesmente não há. Todos colocam ali sua mão­zinha no bolso e fazem sua contri­buição de uma maneira ou de outra. O que está acontecendo é que os re­sultados não dão as caras.

Participo como conselheira de um instituto para disléxicos. E a gente constata que o poder público nem sequer reconhece a existência de distúrbios de aprendizagem, que podem ir de uma deficiência visual (necessidade de óculos) até a dislexia (que afeta até 5% da população). Se a gente não consegue avançar na alfabetização, que dirá no esforço de fazer com que a garotada con­clua o ensino básico e vá além? E a formação do professor sempre fica na rabeira dessa discussão.

Nos perguntamos por que nossa educação não está avançando se de uns tempos para cá há um esforço maior, se há tanta gente investindo para que isso aconteça. Os números mostram que simplesmente não há reversão nenhuma nos resultados. Pessoal sempre cita os resultados do concurso da OAB como parâme­tro de indecência, não é mesmo?

Mas você já tentou conversar com um pintor? Fiz uma reforma em casa recentemente e comecei a achar que sofria de deficiência mental. O brasileiro tem um sério problema de intelecção. Ele não se co­munica, ponto. Como se pretende que o professor ensine? Nos EUA, uma ordem é dada, combinado é combinado, OK is OK, e está tudo certo.

Aqui, a gente acha que não é com a gente. A pessoa parece que não decodifica, acontece com o en­tregador de pizza, com o encana­dor, com o gerente do banco, acon­tece até com o ministro Aloizio Mercadante, que teve de ser des­mentido pelo MIT depois que ele afirmou que ia abrir um campus da universidade aqui no Brasil.

Não deve ter entendido direito, estrum­bicou-se todo, como diria o grande comunicador Chacrinha.

barbara@uol.com.br

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