23
de abril de 2012 | N° 17048
LITERATURA
O que a FestiPoa tem a
ensinar
Escritor
destaca a relevância de evento que se encerra nesta sexta na Capital
Levando
em conta o olhar e a curiosidade de quem observa as inquietações culturais
gaúchas a partir de Santa Catarina recuando, sem desviar o foco, pelo Paraná,
São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e assim, em curva, até o Acre, há bem
pouco tempo a pergunta era: o que há de novo no cenário dos eventos literários
do Rio Grande do Sul?
Isso
porque segue forte o interesse dos leitores dos demais Estados por esse extremo
brasileiro que, para além de Dyonélio, Erico, Moacyr, Caio Fernando, Mario e
também dos autores consagrados ainda em atividade, vem oferecendo ao país o maior
volume de novos autores relevantes (hoje eventual lista abarcando prosa e
poesia contemplaria, com segurança, mais de 50 nomes de repercussão nacional)?
A
novidade, em resposta à pergunta, veio, em meio a outras estreias, com a Festa
Literária de Porto Alegre, invenção da cabeça de leitor apaixonado e muito
atento ao contemporâneo nacional do jornalista Fernando Ramos. Admitido esse
contexto e seu desejado amadurecimento, surge outra indagação pertinente: o que
há de novo na FestiPoa e neste rótulo de quinta edição?
Talvez
pelos autores e artistas que recusam tantos convites, mas se dispõem a
participar dessa festa literária ao entender sua proposta nada conveniada aos
encastelamentos literários, aos coronelismos que só admitem a promoção dos
asseclas, aos apadrinhamentos que acabam guindando a posições políticas
estratégicas pessoas incapazes de dialogar com o novo e olhar para além do
próprio umbigo, ou talvez pela alegria que só existe no verdadeiro
desprendimento; não há como saber ao certo.
O que
se pode afirmar é que nesta edição foi possível perceber o aumento
significativo de escritores e editoras de outras partes do Brasil interessados
em interagir com esse encontro que, em sua informalidade, não dispensa o ótimo
conteúdo dos debates e a verticalização das opiniões.
Aqui
se chegou e não é justo negar que a FestiPoa tem muito a repercutir e a ensinar
com essa sua atualidade, com essa sua dinâmica de leveza e destemor diante da
descentralização inevitável das curadorias, das eleições, das consuetudinárias
puramente mercantis e resistências canônicas. O grupo de pessoas que se
constituiu em torno da iniciativa de Fernando Ramos conserva de maneira notável
o entusiasmo e a irreverência da primeira edição.
Nesses
dias de semana inicial estive próximo das observações pontuais e espirituosas
de Beatriz Resende, César Aira, Italo Moriconi e Joca Reiners Terron, todos na
condição de convidados pela primeira vez, e posso assegurar seu contentamento
com o que viram. Superam-se os protocolos e se monta uma festa que parece não
dar atenção ao tal onde exatamente quer chegar.
Reclama-se
tanto da ingenuidade enquanto valor das soluções criativas, e, no entanto,
ressurge nessa proposta de celebração do conteúdo literário, como ressurge em
tantos outros acontecimentos aparentemente corriqueiros pelo país, a chance de
revisão e oxigenação dos diálogos. A festa vem ganhando tamanho e cobiças, só
espero que não perca o seu despojamento nem sirva à criação e ao enraizamento
de novos coronéis, de novos caciques.
*
Autor de Ainda Orangotangos e Habitante Irreal
PAULO
SCOTT *
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