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quinta-feira, 19 de abril de 2012
CLAUDIA ANTUNES
Não é só chilique
RIO DE JANEIRO - Existe uma dissonância maior do que o normal entre o que os opositores de Cristina Kirchner falam dela e a avaliação expressa nas urnas pelos argentinos. Para os críticos, Cristina é uma caricatura: autoritária, dada a chiliques e manipuladora do nacionalismo para encobrir problemas de uma economia que estaria quase falida.
A presidente argentina pode ter um pouco desses traços, mas foi reeleita no ano passado. Agora, tem apoio inclusive da União Cívica Radical, rival histórica do peronismo, para reestatizar a participação da espanhola Repsol na petrolífera YPF.
Condenada com virulência no exterior, a medida é mesmo arriscada. Poderá causar mais dificuldades a um país que já tem pouco acesso a crédito no mercado internacional desde a moratória de 2001. Mas esse não é o único aspecto do caso.
Para começar, a privatização da empresa nos anos 90 -no governo peronista de Carlos Menem, com aval da própria Cristina- foi um ponto fora da curva da tendência que prevalece no mundo. Em geral, petróleo e gás continuam a ser tratados como bens estratégicos, e a maioria dos países produtores tem estatais do setor, o que inclui ditaduras árabes e democracias avançadas.
Depois, há os questionamentos ao desempenho da YPF privatizada. Dados publicados pelo "Valor" mostram que a empresa passou a investir muito menos do que a Petrobras, invertendo a situação anterior. A produção caiu mais de 40% desde 2003, quando os Kirchner chegaram ao poder.
A Repsol argumenta que o controle interno do preço do barril, a um valor menor do que o internacional, tolhia investimentos. Mesmo assim, a operação na Argentina continuava permitindo a remessa de lucros ao exterior.
Há mais do que voluntarismo no rompimento desse contrato.
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