terça-feira, 24 de abril de 2012



24 de abril de 2012 | N° 17049
DAVID COIMBRA

Temos tão pouco tempo

“Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio e nem quente, vou vomitar-se”.

A ameaça vibra no Apocalipse, tendo antes sido feito uma séria advertência:

“Feliz o leitor e os ouvintes se observarem as coisas aqui escritas, porque o tempo está próximo”.

Apocalipse, em grego, é “revelação”. No caso, a revelação era de autoria do próprio Senhor, que a tornou pública por intermédio de um de seus anjos ao apóstolo João por volta do ano 100. Foi João quem escreveu esse derradeiro capítulo do Novo Testamento com o objetivo de consolar as sete igrejas cristãs da Ásia, que começavam a sofrer dura perseguição.

Certo. Mas o fato de o capítulo ter sido escrito há 20 séculos não lhe tira um naco de credibilidade? Afinal, João havia anunciado que o tempo estava próximo.

Dois mil anos não é pouca coisa. Não é um período que possa ser considerado “próximo” do momento em que João fez a revelação, a não ser que você leve em conta a Teoria da Relatividade de Einstein e pense que dois mil anos é um nada.

Se lembrarmos que o homo sapiens caminha sobre a Terra há 200 mil anos e as outras espécies humanas, como o pitecus e o neandertal, talvez já existissem há seis milhões de anos, que os trilobitos, primeiros invertebrados do planeta, respiravam há 580 milhões de anos, que as bactérias originais existiram há 750 milhões de anos e que o universo se formou há 4,6 bilhões de anos com a ruidosa explosão do Big Bang.

Tudo fica confortadoramente pequeno desta perspectiva. Olhando assim de tão longe, nada tem importância, nem a guerra no Oriente Médio, nem a fome africana, nem a TPM da sua mulher. Agora, se nos colocarmos em outra posição, isto é, se nos colocarmos exatamente onde estamos, a coisa muda de figura. Porque a mesma Bíblia que termina com o Apocalipse começa com o Gênesis e, no Gênesis, conta a história de Matusalém, que “viveu 969 anos, e morreu”.

As pessoas viviam bastante nos bons tempos do Gênesis, mas quando “os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, e escolheram esposas entre elas”, o Senhor não gostou de toda essa sacanagem, e disse, com sua voz trovejante: “Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será só de 120 anos”.

Em suma: a beleza da mulher fez com que ficássemos restritos a somente 120 anos de existência nesse planeta azul. Pense nisso sempre que admirar Megan ou Scarlett. Mas 120 anos é o limite máximo, o que é fundamental frisar. Eu mesmo, eu tenho certeza de que não irei a tanto. Inclusive me satisfaço com oitentinhas, desde que saudáveis. Logo, dois mil anos é muito tempo. Mas esse fato, antes de desacreditar a advertência do apóstolo João, faz com que a encare de outra forma: como se fosse um conselho.

Pois, se nosso prazo de validade é tão curto, temos que aproveitá-lo ao máximo. Assim, sejamos quentes ou frios, nada de mornidão. Aquelas pessoas que não arriscam, que não tentam, que deixam para depois e que preferem calar, essas são pessoas mornas. Estão desperdiçando o tempo escasso de que dispõem. Quando estiverem no fim, lamentarão: “Por que não fui? Por que não fiz? Por que não ousei?”

O Grêmio, sem Kleber, é um time morno. Não tem no grupo nenhuma grande estrela, mas também não tem nenhum notório perna-de-pau; não foi capaz de produzir um único jogo deslumbrante, mas seus pequenos fracassos foram inconsequentes. O Inter, ao contrário, tem sido frio ou quente. Patético no Peru, pulsante em Porto Alegre.

Não sei qual dos dois será quente no Gre-Nal de domingo, mas de algo sei: ao frio, está reservado o Apocalipse

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