terça-feira, 24 de abril de 2012



24 de abril de 2012 | N° 17049
PAULO SANT’ANA

O doce de leite

Já descobri as causas de a carne de gado vacum do Uruguai ser infinitamente mais saborosa que a do Brasil.

Fiquei sabendo que a terra onde brota a grama no Uruguai (mais ainda na Argentina) contém muito mais proteínas que a terra brasileira, daí que as pastagens uruguaias, devoradas pelos bois de lá, acabam por tornar a carne mais deliciosa.

E fiquei sabendo que no Uruguai matam o gado quando o animal tem no máximo três anos de idade, aqui acabam abatendo com idade maior. E, finalmente, descobri que só abatem gado de raça no Uruguai, propício para o consumo de carne, enquanto aqui abate-se qualquer gado.

Perfeito, está explicado. Soube até, nessa minha pesquisa, que o solo mais rico em proteína no mundo, de onde emanam as pastagens, é o da província de Buenos Aires, equiparado somente ao solo australiano e ao da Nova Zelândia.

Mas, então, eu quero fazer uma pergunta: por que os doces de leite uruguaio e argentino são infinitamente mais deliciosos que o doce de leite brasileiro? Por quê?

Ou, então, por que o pêssego, a fruta in natura, recém colhida, no Uruguai é tão mais excelentemente saborosa que o pêssego que se colhe aqui em Porto Alegre, na Vila Nova? Por quê?

Eu não consigo decifrar esse mistério e fico a lamentar a sorte do povo gaúcho, que mereceria desfrutar dessas delícias estupendas.

O pão tipo francês uruguaio é de muito melhor qualidade que o pão tipo francês gaúcho. O iogurte uruguaio, cuja marca mais conhecida é Conaprole, é muito melhor que o iogurte gaúcho.

Eu sei que é impressão falsa minha, mas consigo assim, em face dessa superioridade uruguaia sobre alimentos brasileiros, que o salame e o queijo uruguaios sejam mais saborosos que os nossos. Não o são, mas eu me impressiono que sim.

Eu, esses dias, trouxe para o pessoal que trabalha na minha sala aqui em Zero Hora uma caixa com 25 tabletes de rapadurinhas de doce de leite da marca Vaquita.

Vocês precisavam ver a reação daqueles a quem presenteei a delícia: eles ficaram agradecidos como seu eu fosse um deus.

Agora, ando namorando uns torrões de leite que existem à venda no free shop de Montevidéu. Já sei que, se eu os trouxer para os consumidores aqui da minha sala, serei entronizado como um messias. Da próxima vez que for lá, vai ser a pedida do século esse torrão de doce de leite.

Dizem que o carro ou o cachorro do nosso vizinho são sempre mais bonitos do que os nossos. Mas eu comprei uma sandália, dessas do tipo franciscano, que me custou R$ 32, em Punta del Este, que é um desbunde, não tem nada parecido por aqui.

Quando vou ao Uruguai, sinto-me num paraíso, comparado com Porto Alegre.

Os únicos problemas que vislumbro lá são dois detalhes singelos: com todo aquele churrasco extraordinário que por lá se saboreia, no entanto não tem farinha, que eles chamam de farofa. Não há farinha em parrilla alguma do Uruguai.

E outra coisa que as parrilas e os restaurantes uruguaios não oferecem para seus clientes são palitos. Não usam palitos. É do costume deles a ausência de farinha e palitos nas casas de pasto.

Como mudam de um país para o outro os gostos e as qualidades dos produtos!

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