20
de abril de 2012 | N° 17045
DAVID
COIMBRA
Algo que as mulheres
sabem
As
mulheres têm a capacidade instintiva de identificar o que realmente é
importante na vida. Para um homem, é fascinante e, às vezes, constrangedor.
Você está numa mesa de bar com amigos e amigas. De repente, estoura uma
discussão sobre qualquer assunto, política, economia, futebol ou religião.
Três
ou quatro homens se põem a debater candentemente a questão, eles vibram
argumentos no ar da noite, eles desferem estocadas verbais num e noutro. As
mulheres, em geral, ficam só olhando, caladas. No máximo, sibilam pequenas
interferências pontuais.
O
que essas mulheres silenciosas estão pensando daquilo tudo? Vou dizer: se não
estão rindo e achando ridículo, estão entediadas. Porque nada disso, política,
economia, futebol ou religião, nada disso tem importância. E as mulheres SABEM
o que tem importância, porque é delas a possibilidade da maternidade. Elas não
precisam nem se tornar mães para ter essa compreensão, basta a possibilidade.
É
por isso que o Cazuza disse que só as mães são felizes. Só as mães são felizes
porque elas SABEM que o que importa, de fato, são as pessoas, e ninguém pode
fazer por uma pessoa mais do que uma mãe faz.
Por
tudo isso, sempre acreditei que as mulheres seriam melhores gestores públicas
do que os homens. Não porque sabem “administrar o lar”, bibibi. Não. Apenas
porque elas sabem o que realmente importa. Mas elas podem ter esse entendimento
empanado pelo exercício do poder. Pela ganância por poder. Então, elas passam a
se comportar como homens, da pior forma como um homem pode se comportar.
Um
exemplo é Cristina Kirchner, uma governante confusa, embevecida pelo próprio
poder. Parece faltar serenidade a Cristina Kirchner, aquela serenidade que vem
da segurança de quem sabe o que é importante. Aquela segurança de mulher que
encara o mundo com superioridade muda.
Dilma
tem essa confiança. Tive a convicção de que Dilma é dotada da capacidade
feminina de saber o que é importante quando vi aquela famosa foto dela que foi
divulgada recentemente: Dilma, aos 22 anos, diante do tribunal militar que a
julgou por subversão.
Ela
havia sido torturada, era quase uma menina, mas olhava para os juízes sem medo
e sem desafio. Não havia, na expressão de Dilma, revolta, tristeza, orgulho ou
horror. Ela não arrostava nada e também não se achicava. Estava ali inteira.
Foi isso que me impressionou: era uma mulher inteira. Ela sabia que tudo aquilo
era secundário, que inclusive sua atuação política era secundária, talvez até
sua integridade física lhe parecesse secundária naquele momento.
Agora,
com Dilma na presidência, o que me deu mais esperança de que sua gestão será
bem-sucedida foi a forma como se elegeu. Dilma foi posta na presidência por
Lula. Ela parecia não ter ambição política antes e dá a impressão de não ter
muito mais ambição para depois. Ou seja: está lá só para fazer o que deve ser
feito. Dá a impressão de ser uma daquelas antigas diretoras de escola, duras
porém justas, do tempo em que não havia a demagogia das eleições para diretor.
Não
sei se o governo de Dilma será um bom governo, suspeito de que lhe falte o
essencial, como falta à imensa maioria dos políticos: projeto. Mas percebo nela
a capacidade de perceber o fundamental: que as pessoas é que são importantes.
Que não importa se um país é rico ou pobre. Importa é como as pessoas vivem
nele.
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