ELIANE
CANTANHÊDE
Bonde andando
BRASÍLIA
- CPIs investigam, interrogam, produzem provas, usam e abusam da imprensa para
divulgar os tesouros descobertos e, no final, entregam a arca cheia para o
Ministério Público, sob animada expectativa de punições.
Pois
a CPI do Cachoeira pegou o bonde andando e faz o percurso inverso. A Polícia
Federal fez o grosso do trabalho, o MP e o Supremo já estão a bordo e a
imprensa tem publicado torrentes de nomes, diálogos, fatos e evidências.
As
próprias punições, policiais e políticas, já começaram antes mesmo da instalação
da CPI. O pivô Carlinhos Cachoeira está preso desde fevereiro, o senador Demóstenes
Torres perdeu o partido e está para perder o mandato, o empresário Fernando
Cavendish abandonou a presidência da construtora Delta, que perde, um a um,
grandes contratos.
O
foco, neste momento, está nos governadores Marconi Perillo, de Goiás, e Agnelo
Queiroz, do DF, com a feliz (ou infeliz) coincidência de que um é do PSDB e
outro, do PT.
A
base das investigações, assim, caiu pronta e detalhada no colo dos integrantes
da CPI: o inquérito da PF que está na Procuradoria-Geral da República e no
Supremo Tribunal Federal e que liquida o discurso ético e a carreira política
de Demóstenes.
Essa,
porém, é só a base para os trabalhos da CPI. Um início, um roteiro. Se é para
valer, a CPI precisa identificar conexões, fazer cruzamentos, ir fundo num
esquema que, ao contrário do que querem fazer crer, não se limita a Goiás e ao
DF.
Por
isso, surpreende que as bancadas do PT na Câmara e no Senado defendam uma CPI "com
foco" e "rápida", para o bonde não sair dos trilhos e não perder
o rumo. E quem manda na CPI, sob coordenação do Planalto, é justamente o PT.
E a
orientação de Lula para abrir o foco e não medir esforços para apurar tudo, "doa
a quem doer"? Era bravata, ou caiu a ficha de que pode doer em mais gente
do que o esperado?
elianec@uol.com.br
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