21
de abril de 2012 | N° 17046
EDITORIAIS
ZH
A CPI da
hipocrisia
É
grande o ceticismo dos brasileiros em relação à recém-instalada Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as relações do
contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e agentes públicos. E há mesmo
muitas razões para descrença, a começar pela composição do grupo encarregado da
investigação: dos 32 integrantes indicados pelos partidos políticos, 17 têm
pendências com a Justiça.
Mas
o que mais pesa para o descrédito geral nem é a vida pregressa de alguns
parlamentares, que de certa forma foram absolvidos pelos eleitores ao serem
reconduzidos para os cargos que ocupam. O que leva a opinião pública a
desconfiar da CPI são as manifestações de governistas e oposicionistas, que
mostram a clara vontade de utilizar o instrumento parlamentar muito mais para
fustigar adversários políticos do que para apurar desmandos e falcatruas.
Embora
a presidente Dilma Rousseff tenha sido cautelosa no seu posicionamento sobre a
CPI, assegurando total respeito ao Congresso, outros membros do governo já
tentam condicionar os parlamentares, exigindo que a investigação se restrinja à
Operação Monte Carlo, na esperança de que atinja apenas representantes de
partidos da oposição.
Já
os oposicionistas fazem um monumental esforço para enredar o governo nas
trapaças do contraventor e nas operações cada vez mais suspeitas da empreiteira
Delta, uma das mais atuantes no Programa de Aceleração do Crescimento.
Pouco
se fala no verdadeiro objetivo de uma CPI isenta da contaminação política, que
deve ser a apuração de malfeitos envolvendo homens públicos, independentemente
da agremiação política a que estejam ligados e do credo ideológico que
professem.
Uma
comissão investigatória desta natureza deve estar voltada prioritariamente para
o interesse público. Embora sua atribuição seja apenas investigar – e não
aplicar penas –, a comissão parlamentar tem poderes semelhantes ao de
autoridades judiciais, podendo solicitar a quebra de sigilo bancário dos
suspeitos, requisitar informações e documentos sigilosos, para então encaminhar
as conclusões ao Ministério Público e à Justiça.
É o
que os brasileiros, já vacinados por outras CPIs que se transformaram em
palanques eleitorais, desejam da atual investigação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário