25
de abril de 2012 | N° 17050
DIANA
CORSO
O banho das freiras
Quando pequena ouvi ou li um relato sobre a
rotina de certas freiras reclusas. Nem sei se era real ou inventado. Mas o
assunto me pegou, pois intrigavam-me certas peculiaridades sobre o banho dessas
religiosas. Conforme recordo, elas jamais podiam desnudar-se, portanto trajavam
um tipo de veste, como uma segunda pele, com a qual também se banhavam.
Ficava
a pensar como elas se lavavam, se podiam ou não colocar as mãos por dentro
dessa armadura de pano e ensaboar as partes, digamos, mais inacessíveis. Ainda
me preocupava com o aspecto da drenagem: se saíam com essa espécie de película
de pano do banho, teriam que ficar secando ao relento antes de vestir o hábito,
que do contrário ficaria molhado. Teriam elas aquecimento? Dedicava longas
divagações à complicada logística do banho de uma pessoa que não pode se despir.
Na infância, minha filha tinha um problema
de relevância similar. No caso dela era com o limite de peso que as pontes
podiam suportar. Ela lia o peso nas placas. Como testariam a resistência
daquela edificação? Após muito conjeturar, ela pensou que testavam com algum
tipo de peso tal qual os das balanças antigas.
Quando
a ponte caía, construíam uma nova igual e anunciavam o peso máximo suportável. Porém,
preocupava-se ela, a nova ponte não havia sido testada, e se fosse mais frágil
do que sua similar anterior?
Essas são questões de criança, com o tipo
de solução estapafúrdia que elas costumam inventar. Mas não são muito
diferentes de uma série de raciocínios práticos com que os adultos costumam se
distrair, principalmente em noites de insônia. Problemas ridículos e soluções
dispensáveis ocupam longas jornadas de reflexão.
Tanto
matutar nos leva a desconfiar de que é sobre questões realmente significativas
que se trata. É inevitável pensar que uma menina ocupada com o direito de
desnudar-se e tocar-se está às voltas com a sempre animada sexualidade infantil.
Na mesma linha de inferência, a preocupação com a segurança das pontes indica
uma precoce inquietude sobre as garantias que o mundo oferece. Sempre poucas e
vagas.
Esses pequenos dilemas constituem
verdadeiras questões, travestidas de charadas aparentemente fúteis. Fingindo
ser pueris e aleatórios, apresentam-se pensamentos significativos: desejos,
frequentemente sexuais, assim como questões filosóficas.
O
problema das pontes, por exemplo, é uma inquietação lógica: como uma experiência
pode gerar certezas para compreender uma realidade similar? Desse ponto de
vista, até parecemos (e no fundo somos) bem mais profundos! Melhor assim.
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