segunda-feira, 30 de abril de 2012



30 de abril de 2012 | N° 17055 KLEDIR RAMIL
Diário de bordo – 2ª parte

SEGUNDA-FEIRA, as coordenadas de sempre: só Deus sabe

Cheguei à conclusão que, além de perdido em alto-mar, não sei exatamente que dia é hoje. Quando acordei, a sensação era de uma segunda-feira, mas quem me garante? Minha posição no tempo, eu não sei, mas, no espaço, eu tenho certeza, estou no meio do Oceano Atlântico. Ou seria o Pacífico?

SÁBADO, dois dias atrás,

supostamente

De volta ao passado. Quando chegamos na marina para pegar a lancha, o marinheiro comentou, com meu cunhado, que havia consertado o rádio transmissor. Que ótima lembrança, agora é só ligar o rádio e gritar “SOS”, como se viu no filme do Titanic. Só espero que o resgate seja mais rápido.

SEGUNDA-FEIRA, ou melhor,

dia de hoje, que, eu imagino,

seja uma 2ª feira

Tentei ligar o rádio, mas não consegui fazer funcionar. Resolvi pedir ajuda aos universitários, neste caso, o pagodeiro embriagado que virou meu companheiro de aventura. “Deixa comigo! Parada de rádio é comigo mesmo, merrmão!!!”. Pegou o microfone e saiu gritando para uma plateia imaginária: “Olha a Mangueira aí gente!!! Bora tamborim! Bora cavaquinho!”.

Uma onda mais agitada balançou a lancha. O puxador de samba engraçadinho tentou brincar de mestre-sala. Improvisou um passo sobre o chão instável, perdeu o equilíbrio, se enredou nas próprias pernas e arrancou o cabo do microfone do radio transmissor. Minha paciência se esgotou. Peguei o pandeiro e enfiei na testa do bebum. O cara cambaleou, deu dois passos pra trás, tropeçou no isopor vazio e caiu de costas no mar.

DOMINGO, acho eu

Meu cunhado me pediu pra ajudar a recolher a âncora e comentou que aquela corda é importante para a navegação, pois, além de sua função normal, pode ser útil em caso de emergência.

HOJE, dia da semana desconhecido

Tentei jogar a corda para salvar o afogado. A porcaria enroscou nas minhas pernas, e fomos todos juntos pro fundo do mar: eu, a âncora, o bebum e o microfone.

(continua)

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