segunda-feira, 30 de abril de 2012



30 de abril de 2012 | N° 17055

PAULO SANT’ANA

Violência x poesia

Os taxistas são os grandes propagadores de notícias da cidade.

Se os pauteiros de redações de jornais, rádios e televisões conversassem com permanência com os taxistas, teriam muito mais enriquecidas suas pautas para reportagens.

Foi então que, esses dias, um taxista me contou que instalaram no Chapéu do Sol, um bairro quase rural próximo de Belém Novo, um posto público de atendimento de saúde, notável bem-vinda providência da Saúde municipal.

No entanto, segundo o taxista, as fichas para consultas no posto de saúde do Chapéu do Sol começam a ser distribuídas às três horas da madrugada.

Ocorre, no entanto, que o Chapéu do Sol, ainda segundo o taxista que me contou o fato, é um ninho de traficantes e drogados. E que os tiroteios se sucedem entre os traficantes na madrugada.

Como, então, a população do Chapéu do Sol e arredores poderá se dirigir às três horas da madrugada para entrar na fila e retirar fichas de consultas?

Se isso for verdade, erra lamentavelmente a administração ao fixar como horário para inscrição de consultas às três da madrugada.

Basta marcar para as oito horas da manhã a retirada de fichas de consultas, mesmo que os inscritos tenham de ser atendidos no dia seguinte, e o problema estará resolvido.

São pontuais os casos de populações de bairros porto-alegrenses que não podem sair à noite em seus arrabaldes, em face dos assaltos e dos tiroteios.

E dizer que, quando eu era criança, a cena mais comum na cidade eram milhares de famílias levando cadeiras para as calçadas, tomando chimarrão e conversando até altas horas da noite, no verão e na primavera.

E dizer que era comum a cena dos meninos e rapazes soltando pandorgas em toda a cidade, até mesmo à noite.

E dizer que as crianças brincavam de roda à noite em toda a cidade, no tempo em que eu era criança:

Se esta rua, se esta rua fosse minha,

Eu mandava, eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante

Para quando meu amor fosse passar.

De certa forma, a violência e os assaltos, a roubalheira, acabaram com a poesia na cidade.

Não existem mais as fogueiras de São João porque são à noite e torna-se perigoso juntar pessoas à noite, mesmo para se entregar a festejos.

Um dia desses, um leitor me reclamou que foi assaltado quando participava da procissão de Navegantes. Não respeitaram nem a santinha.

Do modo como vamos no Brasil, assaltam igrejas, mas também assaltam hospitais. Assaltam quermesses, escolas, creches, asilos, não respeitam nem os velhos, nem os doentes para assaltar.

Há casos, raros mas reais, em que são assaltados policiais, viaturas policiais. E muitas vezes já assaltaram até quartéis.

Não respeitam nada nem ninguém. No tempo em que eu era criança, os templos religiosos eram respeitados com veneração. Hoje, o que mais dá é roubarem imagens sacras das igrejas.

Há várias igrejas gaúchas que, incrivelmente, foram cercadas por seus párocos.

Um dos grandes males que a violência enseja é que ela acabou com a poesia, o pitoresco e o encanto das cidades.

Um comentário:

Liese Ilha disse...

Me surprende ao ler esta crônica do Sr. Paulo Santana, que pelo visto anda muito desinformado. Mas mesmo assim, se entende no direito de publicar em meio de grande circulação no Estado informações obtidas através de uma única fonte (um taxista) sem verificar se são verdadeiras ou não. Podemos dizer, que falta no mínimo ética desde profissional extremamente renomado. Além disso, gostaria de entender em que tempo vive esse cidadão que saudosamente relembra momentos de andar pelas ruas em segurança, quando atualmente na Capital Gaúcho, nem nos bairros nobres (que deve ser onde Paulo Santana circula) se têm segurança. Para esse cronista e outras pessoas que possam ter lido essa reportagem posso dizer apenas que:
Vivencio a realidade do Posto de Saúde do Chapéu do Sol, diariamente, e aqui, as pessoas não só não necessitam vir as 3 da manhã, como também sentam-se na frente do posto com sua roda de chimarão. Se o Sr. Paulo Santana, tem saudades desse hábito, deveria visitar o Posto do Chapéu do Sol.