28
de abril de 2012 | N° 17053
CLÁUDIA
LAITANO
Igualdade e diferenças
Há um desconforto incontornável com relação
à política de cotas raciais nas universidades. Por um lado, as cotas obrigam o
Brasil a admitir o apartheid soft que vigora em instituições universitárias (dou
um doce para quem se formou na UFRGS com, digamos, 10% de colegas negros na
turma). Por outro, as cotas são, em essência, uma confissão de fracasso: não
conseguimos resolver nossos problemas de outro jeito, então vai como dá. Meritocracia
é para quem pode.
Uma solução bem menos polêmica, mas muito mais
complicada, seria corrigir as injustiças quando elas começam: na barriga da mãe
(durante o pré-natal), na creche (quando ela é oferecida) ou na alfabetização,
já que saúde e educação são, em tese, direitos garantidos pela Constituição.
Às
vezes, quando prendem um gênio do tráfico que montou uma complexa rede de negócios
aos 17 ou 18 anos, fico pensando que a derrota nesses casos é dupla: ganhamos
um criminoso, desperdiçamos um moleque empreendedor.
Imagine um país em que os alunos com mais
talento para o estudo pudessem ser identificados e valorizados desde cedo, onde
quer que estivessem. Na Alemanha, uma sociedade muito mais homogênea do que a
nossa, as diferenças entre os alunos são levadas em conta na hora de encaminhá-los
para a vida acadêmica. Quando termina o primário, a criança começa a definir a
sua orientação profissional conforme o desempenho dos primeiros anos.
Há três
opções: a Hauptschule, em que os alunos são preparados para o ensino
profissionalizante, a Realschule, que habilita a frequentar cursos superiores,
e o Gymnasium, que propicia uma base mais avançada para a vida acadêmica. Há ricos
e pobres em todos os níveis, em princípio (embora lá, como aqui, ricos tenham
muito mais chances de driblar a falta de talento para os estudos do que os
pobres).
O que o sistema alemão explicita é que há diferenças
na aprendizagem, como em todas as habilidades humanas: há os com talento para
ganhar dinheiro, há os que sabem lidar com pessoas, há os que são bons nos
esportes, há os que vão revolucionar a física nuclear – e nem todos precisam
estudar no mesmo lugar.
Vai bem o país que consegue oferecer as
condições para que cada criança possa ser encaminhada a desenvolver (e
identificar) seu potencial da melhor forma possível, independentemente de cor
ou classe social.
Bom, esse é o sonho. Mas como é que a gente
diz para um guri de 18 anos para esperar um pouquinho porque, quem sabe, daqui
a 50 anos, se tudo mudar radicalmente agora, seu neto estará indo para a
universidade por méritos próprios porque teve um ótimo ensino básico?
A melhor universidade brasileira, a USP, não
está nem entre as 150 melhores do mundo. O país com mais universidades nesse
ranking, os EUA, pratica ações afirmativas desde os anos 70. O Ensino Superior
no Brasil é fraco e injusto há muito tempo (ou é justo a classe média estudar
de graça e o pobre pagar?), e a culpa não é das cotas.
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